sexta-feira, 18 de julho de 2008

CARLOS DE DIOS MURIAS, o espírito das Bem-aventuranças


Carlos de Dios Murias nasceu a 10 de Outubro de 1945 em Córdoba (Argentina), no seio de uma família apegada aos valores religiosos e morais. É por essa altura que sobe ao poder Juan Peron, apoiado pela popularidade da sua esposa, a célebre Evita Peron.
Em 1955, Peron é afastado do poder por uma Junta Militar e Carlos, ao longo de quase toda a sua existência acaba por não conhecer outra coisa senão a instabilidade e a crise na qual a ditadura militar mergulha o país até 1973. A sua irmã Maria Cristina descreve-o como um adolescente idealista, piedoso e sensível à condição dos oprimidos. Opta pela vida religiosa. É admitido entre os franciscanos conventuais, estabelecidos a pouco tempo na Argentina. Deixou-se cativar pelo carisma de S. Francisco de Assis, pela pobreza e pelo empenhamento apostólico dos frades.
Após a sua ordenação sacerdotal, é encarregue da paróquia de El Salavdor de La Rioja e colabora com o Enrique Angelelli, seu bispo que Carlos admira muito particularmente. Angelelli revela-se entusiasta no apostolado e comprometido na evangelização e defesa dos direitos dos oprimidos. Posteriormente, Carlos torna-se colaborador da paróquia de Chamical juntamente com Gabriel Longueville, padre francês, delegado do episcopado de França para a América Latina. Os dois homens entendem-se perfeitamente e gastam-se sem contar em favor da população empobrecida da sua comunidade, explorada em condições humilhantes pelos ricos proprietários. Longe de qualquer actividade política, exercem o seu ministério em plena comunhão com o seu bispo, cuja linha de conduta eles seguem: fidelidade às orientações do Concílio Vaticano II e directrizes da Conferência de Medelin para a América Latina.
Carlos é apreciado pela sua abnegação, o seu bom humor e a sua coragem. Próximo dos humildes, não hesita nunca em ajudá-los, até materialmente. Mantém igualmente um bom relacionamento com os militares de uma base aérea próxima e que ele contacta semanalmente. Todos concordam em ver nele um homem de Deus, profundamente espiritual e cuja vida está em concordância com o Evangelho de Jesus.

D. Enrique Angelelli, Pe. Gabriel Longueville e Wenceslau Pedernera


Porém, na noite de 17 de Julho de 1976, os dois sacerdotes são levados de força por homens armados. Três dias depois, são encontrados os seus corpos a mais de cem quilómetros. Os cadáveres estão crivados de balas e apresentam sinais de tortura atrozes. Carlos tinha 30 anos.

Cinco dias depois é a vez de um catequista, Wenceslau Pedernera, colaborador pastoral dos dois padres. É morto diante da sua esposa e seus filhos. No mês seguinte é o próprio bispo, Enrique Angelelli, no regresso de uma visita à comunidade que ficara sem seus pastores, que é vítima deste terrorismo de estado. Na verdade, era o regime estabelecido que mandatara a morte de homens incómodos da ordem estabelecida, somente porque reivindicavam os direitos dos mais pobres.

A reputação de santidade destes mártires aumentou de tal modo que foi aberto o processo diocesano, tendo em vista a canonização do bispo e seus colaboradores.

2 comentários:

Enrique Cacciamani disse...

Tengo el enorme honor de haber sido compañero de estudios con Carlos en el Liceo Militar Gral Paz de la ciudad de Córdoba,me acuerdo de él como una bellísima persona,un compañero inolvidable,por todos los giros que da la vida perdí contacto con él y desconocía que había sido de su vida,no me extraña que se volcara a la vida sacerdotal y dentro de esta a defender a los más humildes,pues lo que recuerdo de él es que se trataba de una persona llena de alegría y bondad.Con suma tristeza me entero de su desaparición por culpa del régimen militar.Hoy elevo una oración por su alma,en el convencimiento de que la recibirá al lado del Señor.-

Jorge Sutter disse...

EN EL DIA DEL AMIGO: Comparto la opinión de mi condiscípulo Enrique Cacciamani y me honra que desde la Iglesia de Portugal se rinda memoria a nuestro amigo desaparecido, asesinado injustamente en una negra época de la Argentina donde la solidaridad social se interpretaba como insurrección. Desde Córdoba, Jorge Sutter.