domingo, 30 de novembro de 2008

ETTY HILLESUM, poema de Deus (parte I)


Etty Hillesum nasceu a 15 de Janeiro de 1914 em Middelburg (Holanda). Ainda criança, mudou-se com a família para Deventer. Foi nessa cidade que cresceu e fez parte dos seus estudos, rumando a Amesterdão aos 18 anos de idade, para estudar Línguas Eslavas. Em Fevereiro de 1941 conheceu o psicoquirologista Julius Spier, com quem iniciou um tratamento. Spier esteve na origem da aproximação de Etty a Deus (embora de origem judaica, a sua educação fora pouco orientada pela religião).
A 8 de Março de 1941 (tinha ela 27 anos) começou a escrever um diário onde encontramos as suas reflexões pessoais e sobre a humanidade, o seu gosto pelo estudo e literatura, o círculo de amigos e o seu testemunho da segunda Guerra Mundial em território holandês.
Em Julho de 1942 começou a trabalhar como dactilógrafa no Conselho Judaico. Ter um emprego era condição obrigatória para não ser deportada. Todavia, Etty decidiu voluntariar-se para prestar apoio no campo de trânsito de Westerbork, onde muitos judeus trabalhavam e viviam em barracas, antes de serem levados para os campos de concentração e extermínio.
A 6 de Setembro de 1943, Etty era deportada para Auschwitz, vindo a falecer a 30 de Novembro desse ano. Tinha 29 anos.

Mas o que mais impressiona no seu diário é a sua espiritualidade, nascida de quase nada, e que se tornará uma luz no meio dos horrores da IIª Guerra Mundial. Através da leitura da Bíblia e da oração aproximou-se do cristianismo até ao dom absoluto de si, na abnegação total. O mais espantoso foi ter preservado, com uma admirável constância, um amor à vida e uma confiança inabalável no homem apesar de testemunhar os crimes e atrocidades infligidos aos da sua raça.
O que torna Etty tão próxima de nós foi a caminhada que ela soube fazer, de uma vida por vezes marcada por alguma superficialidade e frivolidade, tão comum nos dias de hoje, para uma profundidade e autenticidade na sua relação com os outros e, sobretudo com Deus. Enquanto na boca de tantos surgia o grito, tremendo e legítimo, “Onde está Deus?”, Etty, na sua simplicidade ia, inconscientemente, respondendo: “Vou-te ajudar, meu Deus, a não Te apagares em mim… É tudo quanto nos é possível salvar nesta época, e é também a única coisa que importa: um pouco de Ti em nós, meu Deus.” Ou ainda: “O que importa é levar-Te comigo [Deus], intacto e preservado, para todo o lado e de permanecer-Te fiel, contra tudo e todos, tal como o prometi.”
Da penosa experiência no campo de Westerbork , dirá: “foram os meus meses mais intensos e ricos”.

Em todas as humilhações perpetradas contra os judeus, Etty sente-se livre. “Não sinto que esteja nas garras de ninguém, só sinto estar nos braços de Deus.” Como é isso possível? Etty Hillesum escreve: “Não existe um poeta dentro de mim, há sim um pedaço de Deus em mim que poderia desenvolver-se até se tornar um poeta”. Foi este o modo de atravessar a vida que ela escolheu. “Quando temos uma vida interior, pouco importa, sem dúvida, de que lado das grades de um campo [de concentração] nos encontramos.”

Campo de Westerbork

Continua...

CRISTO JESUS, VOLTA MAIS UMA VEZ!


Precisamos de Ti, só de Ti e de nenhum outro.
Unicamente Tu, que nos amas,
podes compreender o nosso sofrimento,
a piedade que cada um de nós sente em si mesmo.
Só Tu podes perceber quanto é grande, imensuravelmente grande,
a necessidade que temos de Ti nesta hora do mundo.

Nenhum outro, nenhum de todos os que vivem,
nenhum dos que dormem na lama da glória
pode dar aos homens necessitados, caídos em tão cruel penúria,
na miséria mais terrível de todas – a da alma -,
o bem que salva!

Todos têm necessidade de Ti, mesmo aqueles que o não sabem,
e aqueles que o não sabem, mais ainda do que aqueles que o sabem.
O faminto pensa que procura pão, e tem fome de Ti,
o sedento julga querer água, e tem sede de Ti,
o doente ilude-se com ansiar pela saúde
e o seu mal é ausência de Ti.

Quem procura a beleza do mundo, procura, sem se aperceber,
a Ti que és a beleza completa e perfeita;
o que busca, nos pensamentos, a verdade, desejada, sem querer,
a Ti que és a única verdade digna de ser conhecida;
quem se afadiga no encalço da paz, a Ti procura,
a única paz em quem podem repousar os corações mais inquietos.

Todos esses chamam por Ti, sem saber que te chamam,
e o seu grito é inexprimível, mais doloroso do que o nosso…

Nós te pedimos, Cristo, nós que ainda nos recordamos de Ti,
nós te pedimos que voltes mais uma vez
ao meio dos homens que te mataram,
ao meio dos homens que te continuam a matar,
para nos dar a luz da vida verdadeira…

Nós esperamos-te, Cristo Jesus, esperar-te-emos todos os dias,
a despeito da nossa indignidade e de todos os impossíveis.
E todo o amor que encontrarmos nos nossos corações devastados,
será para Ti, que foste atormentado por amor de nós,
e agora nos atormentas com toda a força do teu amor implacável.

Giovanni Papini

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

NOVO DIRECTOR DO SDPV

Em meados deste mês de Novembro, foi tornada pública a nomeação do novo directo do Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional.
O Pe. Hélder José Tomás Lopes, natural de Colmeal da Torre e ordenado em Junho passado, aceitou o desafio que lhe dirigiu o Sr. Dom Manuel, bispo da nossa Diocese. Actualmente pároco de diversas comunidades no arciprestado do Sabugal, o Pe. Hélder terá a importante tarefa de coordenar e fomentar a pastoral das vocações. No entanto, todos somos chamados a colaborar nesta missão.
Ao Pe. Hélder e respectiva equipa que o ajudará, desejamos as maiores felicidades, ao mesmo tempo que pedimos ao Senhor da messe que abençoe o seu trabalho pastoral neste âmbito tão necessário.
Aproveita-se esta ocasião para agradecer a todos quantos colaboraram (e esperamos que continuem) nas iniciativas promovidas pela anterior equipa. Uma palavra de especial apreço às pessoas que dela fizeram parte e apoiaram o anterior responsável. Que Deus vos abençoe!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

JOÃO BERCHMANS, ser santo na rotina


João Berchmans nasceu em Diest, na Bélgica, no seio de uma família muito humilde. Por isso, sujeitou-se a trabalhar como criado para financiar os seus estudos. Nada mais fez na sua vida porque morreu com 22 anos, a 13 de Agosto de 1621.
Nada mais!? A lição de vida que este jovem nos deixa é precisamente o contrário. A existência não vale tanto pelos anos que a constituem mas pela vida com a qual os vivemos. Conscientemente, realizava cada uma das suas acções como uma competição consigo próprio. “Maximus in minimus”, ser perfeito nas mais pequenas coisas quotidianas, era o seu lema de vida. Sim, é possível ser santo com uma vida completamente banal e fazer das coisas mais insignificantes “milagres” de santidade.

O jovem João questiona-nos sobre a forma como encaramos e vivemos a rotina diária. Tudo pode e deve servir para construirmos o Reino de Cristo ao nosso redor. Com Deus, podemos viver tudo de uma forma renovada e generosa. O que realmente norteava a sua vida era querer conhecer e seguir a vontade de Deus: «O Senhor bate à porta do meu coração. Nenhuma outra ideia me ocorre, quer durante o estudo, quer durante o descanso; nada mais me vem à mente quando passeio ou me ocupo em qualquer outra coisa; nenhum outro pensamento me assalta senão o de examinar o estado de vida que devo escolher».
João decidiu ingressar na Companhia de Jesus (Jesuítas) em 1616. Tinha então 17 anos. O seu sonho de anunciar o Evangelho na China. Porém, foi durante a sua formação que adoeceu com uma forte infecção pulmonar vindo, depois, a falecer.
Amorosamente fiel às regras, humilde, colega sempre alegre e gentil, estudante esforçado, tornou-se padroeiro da juventude. Foi canonizado por Leão XIII em 1888.

A VERDADEIRA PAZ


"Sereis detestados por causa do meu nome,
mas nem um cabelo da vossa cabeça se perderá"
cf. Lc 21,12-19

Jesus prometia sempre a paz aos seus discípulos, antes da sua morte e após a sua ressurreição, sempre a paz (Jo 14,27; Lc 24,36). Os discípulos nunca obtiveram esta paz vinda do exterior mas acolheram a paz na luta e o amor no sofrimento; e na morte encontraram a vida. E encontraram sempre um jubiloso triunfo quando, antes dessa morte, os interrogavam, julgavam, condenavam. Eram verdadeiras testemunhas.

Sim, há muitos homens que estão totalmente cheios de mansidão no corpo e na alma, a ponto de estarem penetrados dela até à medula e até às veias, mas, quando chegam o sofrimento, as trevas, a dispersão interior, já não sabem para onde ir. Param de repente e daí não lhes vem nada. Quando chegarem os terríveis furacões, o deserto interior, a tentação exterior do mundo, da carne ou do Inimigo, aquele que souber passar através disso encontrará a paz profunda que ninguém lhe poderá arrebatar. Mas quem não tomar este caminho fica para trás e nunca saboreará a verdadeira paz. Eis quais são as verdadeiras testemunhas de Cristo.

Jean Tauler (1300-1361),
dominicano em Estrasburgo


domingo, 23 de novembro de 2008

QUANDO EU TINHA FOME…


Quando eu tinha fome, deste-me de comer,
Quando eu tinha sede, deste-me de beber
Quando eu estava sem casa, abriste-me as tuas portas
Quando eu estava nu, deste-me o teu manto
Quando eu estava cansado, ofereceste-me descanso

Quando eu estava inquieto, acalmaste-me os tormentos
Quando eu era pequeno, ensinaste-me a ler
Quando eu estava só, trouxeste-me o amor
Quando eu estava preso, vieste ver-me à minha cela
Quando eu estava acamado, vieste-me tratar
Em país estranho, fizeste-me boa acolhida
Desempregado, arranjaste-me emprego
Ferido em combate, curaste-me as feridas
Carente de bondade, estendeste-me a mão
Quando eu era preto, amarelo ou branco,
Insultado e escarnecido, carregaste a minha cruz
Quando eu era idoso, ofereceste-me um sorriso
Quando eu estava preocupado, compartilhaste a minha pena

Viste-me coberto de escarros e de sangue
Reconheceste-me sob o meu rosto suado
Quando me escarneciam, estavas a meu lado
E quando eu era feliz, compartilhavas a minha alegria

Faminto, não só de pão,
mas também de existir para alguém
nu, não só por falta de roupa, mas também por falta de compaixão,
pois muito pouca gente a concede a desconhecidos
desalojado não só de um abrigo feito de pedras,
mas de um coração amigo,
de quem a pessoa possa afirmar que tem alguém por si.


Madre Teresa de Calcutá
in “Trago-vos o amor”

sábado, 22 de novembro de 2008

SOMENTE DEUS...

Em vésperas da solenidade de Cristo Rei, aqui fica este clip do grupo mexicano "El Tri" que nos recorda que "solamente Dios" nos pode julgar.

Só um Rei-Servo capaz de se entregar numa cruz por amor, pode reinar no coração e na mente de quem sonha e acredita num mundo melhor, afinal seu reino.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

FOME


Sê tu o Pão
daqueles que o não têm.

Abre o teu coração,
como um celeiro
de grãos de trigo
a doirar,
para matar a fome
de amor e de ternura
de quem se aproximar de ti.
Depois,
não feches nunca mais
o teu celeiro
e dá-o todo inteiro
a quem precisar de ti.
Matarás, assim,
a FOME mais pungente,
a mais dolorosa e exigente
que no mundo existe.
E tu
ficarás sempre mais rico,
porque o AMOR sem medida
leva atrás de si
o milagre de crescer
esse trigo sazonado
que na vida tu queres ser!...



Ir. Maria Rita Valente-Perfeito
in “Poema de uma vida”

WALTER ELIAS, jovem apóstolo da eucaristia


Dois dias antes de morrer, com apenas 18 anos, Walter Elias pede à mãe, sorrindo: “Gostaria que, após a minha morte, cobrisse o meu corpo de rosas.” Fazia alusão à Santa Teresinha, por quem nutria especial devoção, e à sua famosa “chuva de rosas”. Mas nesta meada de Novembro as rosas estão apenas em botão (é primavera no Uruguai). Quando ele vem a falecer, no dia 18 desse mês, seus amigos admiram-se de ver todas as rosas do seu jardim já abertas e a magnólia carregada de flor perfumada. O seu desejo afinal foi respeitado.
Mas esse pequeno milagre não espanta quem conheceu o jovem. A sua curta vida não ficou marcada por nenhum facto saliente, mas decorreu com uma tal harmonia que se lhe adivinhava um autêntico caminho de santidade em total coerência.
Walter Elias Chango Rondeau nasceu em 1921 nos arredores de Montevideu, capital do Uruguai. Faz os seus estudos sem brilhar. Na verdade, prefere jogar à bola com os seus companheiros, as excursões no campo, acampar na natureza onde se sente livre. A liberdade: é isso que ele aspira. Simultaneamente, procura o seu caminho. Não se sente chamado ao sacerdócio. Sonha fundar uma família, honesta e cristã, como a dos seus pais. Mas tem tempo.

Jovem empenhado e generoso
Primeiro, há que dar qualidade à sua vida de adolescente. Compromete-se na sua paróquia, inicialmente como catequista, depois em associações caritativas. Tem uma especial predilecção pelos pobres: “O que dás a um pobre, é a Cristo que dás!”
A leitura dos escritos de Stª Teresa de Lisieux reforçam o seu empenhamento em favor dos mais necessitados e daqueles que se afastaram da fé.
Com 17 anos acabou os seus estudos e opta pela vida activa. Encontra trabalho numa empresa na qual se destaca pelas suas qualidades: é consciencioso, afável e generoso, mas igualmente cheio de energia, vitalidade e alegria. Dizia ele que “não temos direito a ser medíocres.” Rapaz de muitas iniciativas, organiza festas e encontros com os seus companheiros que acabavam sempre em oração. “Não basta que eu seja bom, é necessário que trabalhe para que sejam bons os meus companheiros. Não basta que eu seja honrado, também devo desejar a honradez dos meus companheiros. Nada de bom se faz sem sacrifício.”

Amor à eucaristia
Por essa altura está apaixonado, mas não quer precipitar-se. Dedica-se, antes, a preparar-se para o Congresso eucarístico de Montevideu, no qual intervirá. A eucaristia reveste-se para ele de uma grande importância. “A comunhão é a vida da alma. Sem ela definhamos, incapazes de esforço e melhoramento. A eucaristia é acção, actualização visível, realidade exterior à qual devemos tomar parte e nela cooperar. A missa não é uma representação ou uma recordação, é uma realidade presente!” Para ele, "a missa do domingo deve influir, deve modificar toda a nossa vida durante a semana inteira. Toda a semana deve estar centralizada, regida pela eucaristia, que deve ser algo como o sol que ilumina, que transforma toda a nossa semana." Intuição surpreendente para um leigo nessa época.

Vida e morte na paz
Pouco depois, toma conhecimento que é atingido de tuberculose intestinal. Tratamentos e operações nada resolverão. Porém, matem a serenidade: “Não estamos destinados a esta terra, mas a Deus. É para Ele que devemos ir.”
Sem poder comungar, por causa das desordens gástricas provocadas pelas intervenções cirúrgicas, guarda o bom humor e encoraja os seus familiares e amigos.
“Morro na paz.” São as suas últimas palavras, falecendo com um sorriso nos lábios.
A sua causa de beatificação foi introduzida em 2001.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ISABEL de HUNGRIA, rainha dos pobres


Isabel, uma princesa húngara, nasceu em 1207. Ainda muito nova, foi dada em casamento a um príncipe alemão de Turíngia. É com 14 anos que se casa, deixando assim a sua pátria e família. Embora vivesse rodeada pelo luxo da corte, a jovem princesa sentia uma forte preocupação por aqueles que eram menos afortunados. Assim, todas as manhãs, à entrada do castelo, ela distribuía comida a muitos pobres e visitava os enfermos v+árias vezes por dias. Isabel era tão misericordiosa que, certa vez, permitiu a um leproso agonizante de repousar na sua própria cama. Diz-se que quando o seu marido soube, irrompeu pelo quarto adentro e rasgou as cobertas da cama. Porém, em vez de encontrar o leproso viu Cristo crucificado numa visão.

Quando a fome e as epidemias assolaram a região, Isabel ganhou o afecto do povo organizando campanhas de assistência aos necessitados. Ordenou que fossem abertos os celeiros reais para dar de comer aos afamados e vendeu as suas jóias para construir hospitais para os enfermos. Seu marido, também ele considerado santo na Alemanha, apoiou totalmente as iniciativas da esposa, contudo a sua caridade incessante não tinha a mesma aprovação junto da restante família. Consideravam a sua generosidade como uma extravagância e um gasto desnecessário do tesouro real. Desta forma, após a morte do marido, na cruzada em 1227, Isabel foi afastada do trono.
Decidiu, então, ingressar na Ordem de S. Francisco. Continuou o seu trabalho em favor dos pobres apesar da sua fraca saúde. Exausta pela dureza da vida e pela enfermidade, Isabel falece com apenas 24 anos. A sua última ordem foi que vendessem todos os seus bens para os pobres.

Santa Isabel da Hungria é padroeira dos sem-abrigos, dos serviços de enfermagem, das instituições de caridade e outros.

Para rezar
Deus todo-poderoso,
por cuja graça
a tua serva Isabel da Hungria
reconheceu e venerou Jesus
nos pobres deste mundo:
permite que nós,
seguindo o seu exemplo,
possamos com amor e júbilo
servir aqueles que passam necessidades
ou têm problemas,
em nome e por amor de Jesus Cristo,
Nosso Senhor,
que vive e reina contigo
na unidade do Espírito Santo.
Amen.
adaptado de "Pessoas comuns, Vidas extraordinárias"

sábado, 15 de novembro de 2008

ORAR SEMPRE


«Jesus disse uma parábola
sobre a necessidade de orar sempre»
cf. Lc 18,1-8


Não podemos limitar a oração a pedidos em palavras. Com efeito, Deus não precisa apenas que Lhe façam discursos; mesmo que nada Lhe peçamos, sabe aquilo de que precisamos. O que dizer? A oração não consiste em fórmulas; antes abarca a vida toda. «Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus», diz o apóstolo Paulo (1 Cor 10, 31). Estás à mesa? Reza: ao pegar no pão, agradece Àquele que to concede; ao beber o vinho, lembra-te Daquele que te proporcionou este dom, para te alegrar o coração e te consolar das tristezas. Terminada a refeição, não te esqueças de te recordar do teu benfeitor. Quanto vestes a túnica, agradece Àquele que ta deu; quanto vestes a capa, testemunha o teu afecto a Deus, que nos proporciona vestes adequadas ao inverno e ao verão, para nos proteger a vida.

Terminado o dia, agradece Àquele que te deu o sol para os trabalhos da jornada e o fogo para te iluminar o escuro e prover às tuas necessidades. A noite dá-te motivos de acção de graças; olhando o céu e contemplando a beleza das estrelas, reza ao Senhor do universo, que fez todas as coisas com tal sabedoria. Quando vês a natureza adormecida, adora Aquele que, por meio do sono, nos reconforta de todas as fadigas e nos devolve, através do repouso, o vigor das forças.

Deste modo, rezarás sem descanso, se a tua oração não se limitar a fórmulas, mas pelo contrário te mantiveres unido a Deus no decurso de toda a tua existência, de maneira a fazeres da vida uma oração incessante.

São Basílio (c. 330-379),
monge e bispo de Cesareia,
doutor da Igreja

in www.evangelhoquotidiano.org

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

VOCAÇÃO, dom e desafio


“No grande e horrível teatro da segunda guerra mundial, eu fui muito poupado. De um momento para o outro, poderia ter sido arrancado de casa, da pedreira, da fábrica, e levado para um campo de concentração. Às vezes perguntava-me: tantos da minha idade que perdem a vida, e eu não, porquê? Hoje, sei que não foi por acaso. No contexto do grande mal da guerra, tudo na minha vida pessoal apontava para o bem que é a vocação. Não posso esquecer o bem recebido, naquele período difícil, das pessoas que o Senhor pusera no meu caminho: quer familiares quer conhecidos e colegas.”

Assim se referia João Paulo II à sua experiência pessoal, no livro "Dom e Mistério" que ele escreveu, por ocasião das suas Bodas de Ouro sacerdotais. A vocação é sempre um dom de Deus que chama cada um a acolher e frutificar a vida como maior presente por nós recebido. Porém, o saudoso papa refer-o, embora a vocação seja uma caminhada intimamente pessoal, não deixa de se apoiar em acontecimentos e pessoas que o próprio Deus nos vai colocando no caminho. Sempre em respeito da liberdade própria, mas desafiando cada um a interpretar correctamente esses sinais através dos quais Ele nos vai falando.

Nesta Semana dos Seminários, para além de considerar o valor e necessidade da vocação sacerdotal, importa que cada um reflicta sobre o modo como discerne o apelo pessoal que Deus lhe faz e sobre a resposta que tem dado. A vocação não se adia num futuro incerto mas concretiza-se, já hoje, naquilo que sou e faço. Só esse compromisso diário me ilumina e prepara para desafios futuros.

O Reino de Deus começa hoje, em mim.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

NESTA SEMANA DOS SEMINÁRIOS

CONVIDAMOS-TE A REZAR E REFLECTIR
SOBRE A VOCAÇÃO SACERDOTAL
QUINTA FEIRA 13 de NOVEMBRO
NO SEMINÁRIO MAIOR da GUARDA
.
Partindo do filme " KAROL" do realizador Giacomo Battiato
e que recorda a caminhada vocacional de João Paulo II,
será lançado um debate sobre o significado do sacerdócio
e da vocação cristã como resposta humana e divina
às interpelações do mundo actual.

A SESSÃO COMEÇARÁ PELAS 21 HORAS

ENTRADA LIVRE

CONTAMOS COM A TUA PARTICIPAÇÃO!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

S. MARTINHO de TOURS, a caridade como maior lei


Martinho nasceu por volta do ano 316, na actual Hungria. Seu pai era oficial do Exército Romano. Nos primeiros anos da juventude, contra a vontade dos pais, quis tornar-se cristão. Porém, o pai tentou contrariar a decisão do filho, alistando-o no Exército Romano.
Apesar disso, Martinho conciliou a carreira militar com um estilo de vida simples, entegando aos pobres praticamente todos os seus bens. Numa época em que a sociedade estava dividida em classes e níveis sociais distintos, os soldados da sua graduação tinham direitos a vários escravos. Martinho, no entanto, insistiu em ter um só, a quem tratava por igual, partilhando com ele comida e amizade.

Compromisso com Cristo
É Precisamente nessa época, que ocorre o famoso episódio do pobre e do manto. Num dia tremendamente frio, enquanto a companhia de Martinho marchava para Amiens, na Gália, viu um mendigo meio despido tiritando de frio. O nosso Santo, tendo já dado tudo o que tinha, decidiu cortar a meio o seu manto, oferecendo-lhe uma das partes. (Reza a lenda que, apesar de mal agasalhado e de chover torrencialmente Martinho continuou o seu caminho quando de repente a tempestade desapareceu e deu lugar a um sol brilhante. Diz-se que Deus, para recordar o seu acto de generosidade, proporciona em meados do Outono uns belos dias de sol, a que o povo chama «Verão de S. Martinho». Associando-se ao facto, ou apenas para aproveitar o bom tempo, fazem-se os magustos).
Na noite após o encontro com o mendigo, Martinho sonhou e viu Jesus envolto naquele pedaço de manto, que lhe dizia: "Martinho, ainda não baptizado, deu-me este vestuário".esta visão marcou-o profundamente. Abandonou, então, o Exército e pediu o baptismo.

Entregou-se à vida de eremíta, fundando um mosteiro em Ligugé, na actual França, onde vivia sob a orientação de Santo Hilário. Ordenado sacerdote, foi mais tarde aclamado bispo de Tours, em 371. Tornou-se um grande evangelizador da França, verdadeiramente pastor, fundando mosteiros, instruindo o clero, defendendo a causa dos oprimidos e deserdados deste mundo.
Morreu no ano de 397.

São Martinho é o primeiro dos Santos não Mártires, canonizado no Ocidente.

domingo, 9 de novembro de 2008

SEMANA DOS SEMINÁRIOS 2008


Deus santo,
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vós criastes o mundo pela vossa primeira e última palavra
E pela primeira e última o salvastes;
Lançai no coração dos nossos jovens sementes de amor,
capazes de crescer e de fazer deles
agentes do vosso desígnio de salvação.
Vós chamastes profetas
para dizer palavras de verdade, justiça e caridade
ao povo que, por amor, escolhestes e reunistes.

Colocai as vossas palavras santas
na boca dos nossos jovens
para que não sejam espectadores passivos
mas actores atentos ao mundo que os rodeia
e, dando-se sem reservas, disponíveis para amar,
encontrem um sentido para a sua vida
e deixem a semente germinar.
Vós enviastes a Sabedoria do santo céu,
do trono da vossa glória, e com a vossa voz derrubastes
os cedros e abalastes o deserto.

Atendei às inquietações dos nossos jovens,
aos seus gritos e sussurros,
e despertai neles um amor pela Igreja,
vosso templo e corpo do vosso Filho,
para que, sem complexos nem angústias,
tenham coragem e discernimento
para responder com um sim entusiasmado
à ternura do vosso abraço.

Senhor Jesus Cristo, Filho de Maria, a serva da Palavra,
Vós semeastes a Palavra com abundância
para que frutificasse e pelo sangue que derramastes,
sangue que não tinge mas branqueia,
fostes digno de tomar o Livro
escrito por dentro e por fora
e de abrir as suas páginas seladas.

Derramai o vosso Espírito sobre os nossos seminários
e fazei com que,
acolhendo as vossas palavras de vida eterna,
sejam centelhas de esperança
e sementes de futuro para a Igreja,
no seguimento fiel e generoso da vossa vontade.
Vós que sois Deus com o Pai na unidade
do Espírito Santo.
Ámen.

sábado, 8 de novembro de 2008

ISABEL da TRINDADE, habitada por Deus


Isabel da Trindade nascieu em Bourges, França, no dia 18 de Julho de 1880. Aos 21 anos entrou para o Carmelo de Dijon vindo a falecer aos 26 anos, após 5 anos de vida religiosa.
Profundamente ligada à Santíssima Trindade, afirmava que o Amor habita em nós, e a sua obrigação era mergulhar no seu íntimo para aí se encontrar e viver com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. "A felicidade da minha vida é a intimidade com os hóspedes da minha alma". Dizia que o amor que sentia era como um oceano no qual mergulhava e se perdia.
Deus estava nela e ela em Deus. Necessariamente, tinha de amá-l´O e deixar-se amar em todo o tempo e em tudo: "Acordar no Amor; mover-se no Amor; adormecer-se no Amor; a alma na sua Alma; coração no seu Coração; olhos no seus olhos..."
.
Um ano antes da sua entrada no Carmelo, em Janeiro de 1900 (tem então 20 anos), por ocasião de um retiro, escreveu o seguinte:
“Ó Jesus, meu Bem-amado, como é doce amar-Te, pertencer-Te, ter-Te por único Tudo! Ah, agora que vens diariamente ao meu coração, que a nossa união seja ainda mais íntima. Que minha vida seja uma oração contínua, um longo acto de amor. Que nada me possa distrair de Ti, nem ruídos, nem distracções, nada…
Gostaria tanto, ó meu Mestre, de viver contigo em silêncio. Mas o que acima de tudo amo é fazer a vossa vontade, e dado que ainda me queres no mundo, submeto-me de todo o meu coração por amor de Ti.
Ofereço-Te a cela do meu coração, que seja a tua pequena Betânia; vem aqui repousar-Te, amo-Te tanto…
(…)
Meu Jesus, meu Deus, como é bom amar-Te, ser inteiramente tua!”
.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

NUNO ÁLVARES PEREIRA, soldado de Cristo


Nuno Álvares Pereira é, provavelmente, o cavaleiro português mais conhecido da nossa história, tanto pela sua bravura como pelo desenrolar da sua vida.
Nuno nasceu a 24 de Julho de 1360 no seio de uma família fidalga. Ainda muito jovem ingressa na corte do rei D. Fernando, sendo então escolhido para ser escudeiro da rainha D. Leonor Teles. É aí educado com esmero na arte militar, tornando-se mestre exímio neste campo. Pouco tempo depois foi logo armado cavaleiro.
Casa-se com Dona Leonor de Alvim, casamento do qual teve uma filha a quem puseram o nome de Beatriz.

Defensor do Reino
Após a morte do rei D. Fernando, colocou-se ao lado do D. João, Mestre de Avis. Este chamou-o para o conselho do governo e mais tarde, nomeou-o Condestável do Reino e chefe dos exércitos portugueses. A sua bandeira era branca dividida pela cruz de Cristo, de cor vermelha. Numa das partes da bandeira estava Nossa Senhora com o Menino ao colo; na segunda, Cristo na cruz acompanhado por Maria e João; na terceira, S. Jorge e na quarta, S. Tiago.
Entre 1383 e 1385 liderou o exército português a várias vitórias, sendo as mais conhecidas as de Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385, Atoleiros, Trancoso e Valverde. Nesta última, fez o voto de construir uma igreja a Nossa Senhora do Carmo, em Lisboa, caso ganhasse a batalha.
Assim, em 1389 iniciou a edificação de um convento, onde se instalaram os frades da ordem do Carmo, os carmelitas, no ano de 1397. Na carta de doação, escreveu: “Em reconhecimento pelo dom do Escapulário, precioso tesouro que a Mãe de Deus trouxe do Céu em defesa dos seus irmãos.”
D. Nuno costumava dizer: “Quem quiser ver-me vencido é privar-me da comunhão, pão dos fortes, vigor dos homens”. Apesar de rico, sempre foi para os pobres pai e amigo, ajudando todos os necessitados. Na corte, corrupta e fútil, viveu sempre íntegro e santo.
Nunca perdeu uma batalha que fosse liderada por si. Conta-se que a sua espada, que tinha o nome de Maria gravado, lhe dava a devida protecção.
Servo de Deus
Em 1422, o Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, o homem mais rico do Reino, decidiu fazer-se carmelita no convento por ele fundado, tomando o nome de Nuno de Santa Maria. A partir de então, dedicou-se à oração e à caridade para com os pobres. Com o passar do tempo, a idade e a doença consumiram-no. Enquanto o povo enchia a Igreja do Carmo, rezando por ele, Frei Nuno de Santa Maria pede que lhe leiam a Paixão do Senhor segundo S. João. Às palavras: “Eis a tua Mãe”, Frei Nuno, o enamorado de Nossa Senhora do Carmo, voou ao encontro do Céu, nos braços da Virgem a quem sempre servira e amara.
Por ter dedicado os seus últimos dias a Deus e a ajudar os mais pobres, depois da sua morte, em 1431, o povo começou a chamá-lo de Santo Condestável. Este título confirmou-se com a sua beatificação em 1918 e, segundo tudo indica, estará para breve a sua canonização.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O AMOR...


"O amor não é um sentimento,
nem uma emoção passageira.

É uma atenção ao outro
que se torna, a pouco e pouco,
compromisso."

Jean Vanier

sábado, 1 de novembro de 2008

FELIZES...


Felizes os pobres de coração, porque o reino dos céus é para eles.
Dai-nos, Senhor, o espírito de pobreza e de humildade.

Felizes os que choram, porque serão consolados.
Ensinai-nos, Senhor, a partilhar as lágrimas dos nossos irmãos.

Felizes os mansos, porque possuirão a terra.
Dai-nos, Senhor, um coração manso e humilde como o vosso.

Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Dai-nos, Senhor, uma alma desejosa de justiça e de paz.

Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Abri, Senhor, o nosso coração ao amor de todos e à atenção pelos outros.

Felizes os corações puros, porque verão a Deus.
Iluminai, Senhor, o nosso olhar com a vossa bondade.

Felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Concedei-nos, Senhor, ser centros de paz e de alegria para todos.

Felizes os perseguidos pela justiça, porque o reino de Deus é para eles.
Tornai-nos, Senhor, fortes nos sofrimentos e nas dificuldades pelo vosso reino.

TODOS... SANTOS


Hoje é dia de todos os santos…
Cortejo inumerável de homens e mulheres
que Te seguiram e contigo conviveram, de modo admirável:
Com os que tinham fome partilharam o seu pão
Olharam compadecidos as dores do mundo
e sofreram perseguição por causa da justiça
Foram limpos de coração e, por isso,
dos seus olhos jorrou pureza
e dos seus lábios brotaram palavras de consolação.
Amaram-Te e amaram o mundo
Cantaram os teus louvores e a beleza da Criação
e choraram as dores dos que desesperam
e tiveram gestos de indignação
e palavras proféticas que rasgavam horizontes límpidos
Estes os que seguem o Cordeiro
porque Te reconheceram
e de Ti receberam o dom
de anunciar ao mundo a justiça e a salvação.

Maria de Lourdes Belchior
Gramática do mundo