terça-feira, 30 de setembro de 2008

S. JERÓNIMO, apaixonado pela Palavra de Deus


Jerónimo nasceu por volta do ano 345. Era um ávido estudante. Estudou latim e grego em Roma, onde foi baptizado quando tinha 18 anos. De Roma viajou para a Gália, depois para Aquileia, em Itália, e por fim para Antioquia, na Síria. Ali estudou teologia e apreciou a literatura clássica. Em seguida aconteceu-lhe o que provocou nele uma mudança radical na sua vida. Jerónimo teve um acesso de febre alta e entrou em delírio. Durante este período, teve uma visão na qual se viu a si próprio de pé perante Cristo, que o desafiou dizendo que ele não era um verdadeiro cristão mas um seguidor de Cícero, o orador romano. O santo prometeu ser fiel a Jesus e abandonou a sua afeição pela literatura clássica. A partir daquele momento, Jerónimo dedicou-se só ao estudo da Bíblia.

No deserto
Perturbado com a visão, Jerónimo foi viver para o deserto nas vizinhanças de Antioquia. Passou lá quatro anos, jejuando e lutando contra os seus desejos terrenos. Durante este período, estudou hebraico e, finalmente, conseguiu dominar esta língua. Mais tarde, empreendeu a importante tarefa de traduzir a Bíblia para latim, a qual é conhecida actualmente como a “Vulgata”.

O mosteiro em Belém
No ano 386, Jerónimo viajou para Belém, onde ingressou no mosteiro e se tornou o seu abade. Como estudioso da Bíblia, continuou a escrever. Em 410, quando os cristãos foram obrigados a abandonar Roma, o mosteiro ofereceu-lhes refúgio. Jerónimo escreveu: “Eu não posso ajudá-los a todos mas posso sofrer e chorar por eles… Hoje, nós devemos transformar as palavras da Sagrada Escritura em actos, e em vez de difundir palavras santas devemos pô-las em prática”. Cerca de seis anos mais tarde, a saúde e a vista de Jerónimo começaram a deteriorar-se. Ele morreu no dia 30 de Setembro.
Rezar com S. Jerónimo

Mostra-me, ó Senhor, a Tua misericórdia
e deleita o meu coração com ela.
Deixa-me encontrar-te, a Ti,
a quem procuro com tanto anseio.
Vê! Aqui está o homem
a quem os assaltantes roubaram, maltrataram
e deixaram meio morto no caminho para Jericó.
Ó samaritano de bom coração vem em minha ajuda!
Eu sou a ovelha que vagou pelo deserto.
Vem à minha procura e leva-me para casa,
outra vez para o Teu rebanho.
Faz comigo o que seja a Tua vontade,
e Te louve a Ti e a todos aqueles
que estão contigo no Céu por toda a eternidade.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

ESCUTAR NO SILÊNCIO


Escuta em silêncio. Porque o teu coração transborda com um milhão de coisas, tu não podes escutar nele a voz de Deus. Mas assim que te pões à escuta da voz de Deus no teu coração pacificado, ele enche-se de Deus. Isso requer muitos sacrifícios. Se pensamos que queremos rezar, temos de nos preparar para isso. Sem desfalecimento. Não são senão as primeiras etapas em direcção à oração, mas se não as concluímos com determinação, nunca alcançaremos a última etapa, a presença de Deus.

É por isso que a aprendizagem deve ser feita desde o início: colocar-se à escuta da voz de Deus no seu coração; e, no silêncio do coração, Deus põe-se a falar. Depois, da plenitude do coração sobe o que a boca deve dizer. Aí opera-se a fusão. No silêncio do coração, Deus fala e tu só tens que escutar. Depois, uma vez que o teu coração entra em plenitude, porque ele se encontra repleto de Deus, repleto de amor, repleto de compaixão, repleto de fé, compete à tua boca pronunciar-se.

Lembra-te, antes de falares, que é necessário escutar e só então, das profundezas de um coração aberto, podes falar e Deus entende-te.

Teresa de Calcutá (1910-1997)
fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
No Greater Love (trad. Não há amor maior)

domingo, 28 de setembro de 2008

VEM ATÉ MIM, SENHOR!


Meu Senhor Jesus,
eu bem gostaria de amar.
Meu Senhor, não te fies em mim!
Meu Senhor, já te disse,
se Tu não me ajudas,
nunca farei nada bem feito.

É o que te digo: eu não te conheço,
procuro-te e não te encontro:
Vem até mim, meu Senhor!

Se eu te conhecesse,
também me conheceria a mim próprio.
Eu nunca te amei,
eu bem gostaria de te amar, Senhor Jesus.

Eu não quero fazer senão a tua vontade.
Eu desconfio de mim próprio.
Em ti, eu confio, Senhor.


S. Filipe de Neri
(1515 – 1595)

sábado, 27 de setembro de 2008

VICENTE DE PAULO, o apóstolo da caridade


Apesar de ter nascido num berço humilde, em 1581 perto de Dax, no sudoeste da França, Vicente foi uma pessoa que se esforçou por melhorar cada vez mais, não se conformando com as fatalidades da vida. Estudou com os Franciscanos, foi ordenado sacerdote com apenas 19 anos e chegando mesmo a ser capelão da Rainha em 1600. Posteriormente, foi contratado pelos De Gondi, uma família rica e poderosa, como preceptor e guia espiritual.
Em determinada ocasião, ao ouvir de confissão um camponês da fazenda, Vicente apercebeu-se da realidade a que estava sujeita grande parte dos pobres. Chocado com a ignorância do homem em matéria de religião, o Santo decidiu consagrar a sua vida aos pobres. Decorria o ano 1617. Começou por pregar a respeito da confissão na capela local. Pouco depois, a frequência à confissão aumentou consideravelmente. Através deste sacramento, Vicente procurou corresponder ao desejo que as pessoas manifestavam de querer aprender e saber mais sobre Deus. Tal era a necessidade que decidiu fundar a Congregação da Missão, um grupo de sacerdotes que pudesse difundir a Palavra de Deus aos pobres das regiões rurais.

Visão de consolo para todos
Esta família religiosa constituiu o início da ampla visão de Vicente de Paulo. Quando se difundiu pelas cidades a notícia da sua beneficência, muitas pessoas ofereceram-se como voluntárias. Assim, em 1633, com Luisa Marillac organizou um outro grupo chamado as Filhas da Caridade constituído por mulheres de todos os níveis sociais, que desempenhavam funções importantes. Mulheres pertencentes à nobreza juntaram dinheiro para apoiar os vários grupos de caridade; enquanto outras, que eventualmente se tornariam as Filhas da Caridade, ajudavam os doentes, os órfãos, as pessoas afectadas por perturbações emocionais e os sem-abrigo. Durante a sua vida, Vicente fundou hospitais, organizou retiros e seminários onde se formavam sacerdotes sensíveis à missão da caridade e ao anúncio da Palavra de Deus.
Tal foi a sua acção e influência na sociedade que quando morreu, a 27 de Setembro de 1660, a França ficou de luto.

Vale a pena ler o que ele escreveu:
Também nós devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar o que Ele fez: cuidar dos pobres, consolá-los, socorrê-los e recomendá-los.
Cristo quis nascer pobre, chamar para a sua companhia discípulos pobres, servir os pobres e identificar-se com os pobres, aponto de dizer que o bem ou o mal feito a eles o tomaria como feito a Si mesmo. Deus ama os pobres, e por conseguinte ama também aqueles que os amam. (…)
Quando os visitamos, procuremos compreender a sua pobreza e infelicidade para sofrer com eles e ter os sentimentos de que fala o Apóstolo (Paulo), quando diz: «Fiz-me tudo para todos». Esforcemo-nos por sentir profundamente as preocupações e misérias dos nossos semelhantes; peçamos a Deus que nos dê o espírito de misericórdia e compaixão e que conserve sempre em nossos corações estes sentimentos.”

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

DEUS PROCURA-TE...


"Adão, onde estás?" (Gn 3,9)

A minha alma anseia pelo Senhor e eu procuro-o com lágrimas. Como poderia não te procurar? Tu foste o primeiro a encontrar-me. Tu permitiste-me que vivesse a doçura do teu Espírito Santo e a minha alma amou-te. Tu vês, Senhor, o meu sofrimento e as minhas lágrimas. Se não me tivesses atraído com o teu amor, eu não te procuraria como te procuro. Mas o teu Espírito fez-me conhecer-te e a minha alma alegra-se por tu seres o meu Deus e o meu Senhor e, até às lágrimas, anseio por ti...

Senhor misericordioso, tu vês a minha queda e a minha dor; mas, humildemente, imploro a tua clemência: derrama sobre o pecador que eu sou a graça do teu Espírito Santo. A sua lembrança leva o meu espírito a encontrar de novo a tua misericórdia. Senhor, dá-me o teu humilde Espírito para que eu não perca de novo a tua graça e não me lamente como Adão que chorava a separação de Deus e o Paraíso perdido.

O Espírito de Cristo, que o Senhor me deu, quer a salvação de todos, deseja que todos conheçam Deus. O Senhor deu o Paraíso ao ladrão; dá-lo-á também a todos os pecadores. (…) E, no Espírito Santo, conheci Deus...

S. Siluane
(1866-1936)
in www.evangelhoquotidiano.org

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A MÃE DE TODAS AS MÃES


Eis o relato de um soldado da 1ª Guerra Mundial que vale a pena ler:

No verão de 1918, os nossos ulanos (lanceiros de alguns antigos exércitos europeus) ocuparam a Ucrânia avançando até a Crimeia. Eles lutaram contra os comunistas liberando a região das mãos dos guerrilheiros vermelhos. Eis que, de repente, numa cidade que havia sido quase que inteiramente incendiada, fomos apanhados numa cilada. Após violento combate, fomos todos presos. Éramos doze homens.

Arrastaram-nos para a cidade mais próxima, onde fomos interrogados. O chefe era um checo de Praga, um desertor que falava perfeitamente alemão. Este homem cismou, particularmente, comigo. Apropriando-se da minha carteira, dela retirou uma medalha, antiga peça em prata, com a imagem da Virgem Maria.
Eu recebera esta lembrança da minha mãe, quando deixara a cidade, para que me protegesse de todo o mal, pois a medalha já resguardara meu pai, meu avô e meu tetravô de tantos perigos. Naquele momento o miserável tinha, contra a luz, a Virgem Mãe nas suas mãos; examinando-a, parecia estar a sorrir. Seria troça, indulgência ou emoção? Impossível saber. Em seguida leu, em voz alta, a inscrição, que é a divisa da nossa família: "Meiner Liebe Glut leuchtet nicht minder als die Sterne": "A chama do meu amor não brilha menos do que as estrelas."

Eis, pois, a medalha entre as mãos de um bolchevique. Por que motivo eu não a tinha usado no peito como meus pais? A minha mãe colocara-a no meu pescoço, abraçando-me, no dia em que parti. Eu tinha vergonha daquela piedosa "superstição". Colocara, então, a medalha na carteira...
Vendo o meu tesouro em mãos estrangeiras, o meu coração revoltou-se; avancei contra o checo, arrancando a medalha das suas mãos. Este começou a rir, maldosamente: "Hei! capitão, o senhor parece que põe a sua confiança num feitiço. E ainda por cima é falso, pois não lhe trouxe sorte alguma... Se por esta coisa eu lhe concedesse algum favor, o senhor vendê-la-ia?"
Não respondi a uma pergunta tão insolente. O checo aproximou-se, gritando cheio de raiva: "Destrua!" Eles encarceraram-nos numa sala de aula, onde nos pudemos deitar. Atormentado, cheio de medo, não consegui dormir naquele leito de palha.

Por volta da meia-noite, despertaram-me e ordenaram-me que saísse. O checo esperava-me do lado de fora. Ele exalava odor de vodka, embora não estivesse bêbado. Fez-me, então, um sinal convidando-me a acompanhá-lo no pátio da escola... "Eu fi-lo vir até aqui, capitão, para ajudá-lo e, talvez, para receber a sua ajuda, igualmente, pois o ser humano não deve perecer neste tempo inumano! Sei o que o senhor está a pensar, o senhor acha que sou um cão cínico e não está de todo errado. No entanto, como posso expressar-me sem parecer falso ou covarde? Segundo o desejo de meus pais, eu deveria ter-me ordenado sacerdote. E hoje, eis que sou um bolchevique, um comunista, um apóstata. Quando saí de casa, minha mãe colocou-me uma moeda benta, ao pescoço, representando a Virgem Maria que deveria, segundo ela, trazer-me felicidade. Hoje, um sentimento de tristeza amparou-se de mim, quando coloquei a sua medalha entre as minhas mãos; tive que lutar contra esta estúpida emoção... Eu ainda possuo aquela lembrança dada pela minha falecida mãe. Ei-la aqui!"
O Checo tirou do bolso uma moeda antiga, em prata. A efígie do escudo representava a Mãe de Deus, aureolada como Soberana da Boémia. E ele continuou: "Curioso! Eu sempre gostei de Maria; não tenho nenhum sentimento de rancor contra Ela. Talvez seja porque Ela é a Mãe de todas as mães. O amor de nossas mães deve ser sagrado para nós!" Ao dizer estas palavras, seu rosto expressava um sentimento de dor. Em seguida, acrescentou: "Pelo amor da sua mãe e da minha, tenho vontade de fazer com que o "feitiço" se realize. Quando continuarmos a caminhada, o senhor encontrará um meio para fugir." Em seguida, mudando o tom da voz e a postura e, olhando à sua volta, acrescentou: "Pode ser que eu esteja enganado... Amanhã nós recuaremos diante dos Alemães. Na estrada vamos soar o alarme. Haverá uma certa desordem. O senhor saberá aproveitar-se da ocasião, capitão!". Olhei, estarrecido, para o homem e perguntei: "E meus homens?"... Ele, fazendo um sinal irritado, disse: "Tudo vai correr bem! Boa sorte e boa noite!". Indeciso, estendi-lhe a mão.

No dia seguinte, os russos batiam em retirada, levando-nos com eles... Repousávamos numa granja abandonada. Subitamente, alguém chamou os guardas. Bela ocasião para fugir. Tomamos, então, a direcção do Sul e logo encontramos as nossas tropas. O Checo manteve a sua palavra.”

Testemunho de um velho oficial da Grande Guerra,
segundo R. Demi ! Ein Mutterherz fur allé, pp. 118-121
retirado do site: www.mariedenazareth.com

terça-feira, 23 de setembro de 2008

SALVO D’ACQUISTO, defender a vida dando-a…

No entardecer do dia 22 de Setembro de 1943, uma explosão abala a velha torre de vigia de Palidoro, na Itália. Um soldado do exército alemão, que ocupa a região, morre e dois são feridos. Evoca-se, então, um atentado que nunca será provado. Em represália os germânicos lançam um ultimato: se os culpados não se entregarem, cinquenta habitantes serão fuzilados.
No dia seguinte, dois oficiais SS apresentam-se na caserna dos carabinieri italianos, a quem estava confiada a segurança daquela região. O comandante estando ausente, é o vice-brigadeiro D’Acquisto que os recebe. Este último é obrigado violentamente a segui-los até à povoação onde a população, aterrorizada, está reunida. Cinquenta pessoas são escolhidas ao acaso. Excluídos os idosos e adolescentes, sobram 21 reféns. Salvo D’Acquisto é intimado a designar o responsável do atentado. Salvo, calmamente, tenta explicar aos alemães que nenhum deles é culpado. Como resposta e golpeado e insultado.

Mas quem é este jovem brigadeiro que enfrenta a arrogância nazi?
Originário de Nápoles, Salvo D’Acquisto tem 23 anos. Incorporado no exército desde 1939, ofereceu-se como voluntário para a frente líbia onde é ferido numa perna dois anos depois. Continua a sua instrução sendo enviado para esta região de Torrimpietra, zona pouco segura que separa a região norte italiana ocupada pelos alemães e o sul do país nas mãos das tropas americanas que avançam inexoravelmente. Homem do dever, Salvo é, antes de mais um cristão convicto. Da sua família, herdou uma fé sólida e uma grande generosidade. Alia coragem, determinação, lealdade e um sentido apurado da honra. Todas essas qualidades valeram-lhe a consideração dos seus superiores, o respeito dos seus homens e uma real popularidade entre os habitantes locais. Aos olhos dos jovens é um verdadeiro herói pelo prestígio ganho na Líbia. Todos conhecem a sua piedade pela sua participação regular na eucaristia e não tem vergonha de afirmar a sua fé.

Perante os alemães e seus reféns, Salvo D’Acquisto não perde a serenidade e recusa categoricamente de denunciar um inocente. Os 21 escolhidos são coagidos, entre choros e lamentos, a cavar as suas próprias covas. Todos serão executados perante o brigadeiro. Salvo pede para ser ouvido pelo oficial alemão. Alguns instantes mais tarde, os reféns são libertados. O brigadeiro italiano coloca-se, entretanto, diante do fosso cavado. Imediatamente é abatido. Fiel à sua fé – “não há maior prova de amor que dar a sua vida pelos seus amigos” (jo 15, 13) – e em perfeita coerência com o seu ideal e tradição gloriosa dos carabinieri italianos, Salvo D’Acquisto ofereceu-se para assumir a responsabilidade do atentado contanto que os reféns fossem libertados.

A 15 de Fevereiro de 1945, Salvo D’Acquisto recebe a título póstumo a medalha de ouro do valor militar pelo “seu exemplo luminoso de altruísmo, levado ao extremo renunciando à sua vida”. Entretanto, soube-se que a explosão fora acidental.
A reputação de santidade de Salvo ultrapassou rapidamente a fama de herói. Tornou-se uma das figuras mais amadas pelos católicos italianos, particularmente dos jovens. A causa de beatificação foi aberta na qualidade de mártir da caridade. Os seus restos mortais repousam na basílica de Sta Chiara de Nápoles e o seu túmulo é alvo de numerosas peregrinações.

Alguns dos reféns salvo por D'Acquisto

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

REZAR NO SILÊNCIO


«Passou a noite a orar a Deus.
Quando nasceu o dia, convocou os discípulos
e escolheu doze dentre eles»

(cf. Lc 6,12)

Precisamos de encontrar Deus, e não é na agitação nem no barulho que poderemos encontrá-Lo. Deus é o amigo do silêncio. Em que tamanho silêncio não crescem as árvores, as flores e a erva! Em que tamanho silêncio não se movem as estrelas, a lua e o sol! Não é nossa missão dar Deus aos pobres dos casebres? Não um Deus morto, mas um Deus vivo e que ama. Quanto mais recebermos na oração silenciosa, mais podemos dar na nossa vida activa. Precisamos de silêncio para sermos capazes de tocar as almas. O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz através de nós. Todas as palavras que dissermos serão vãs se não vierem do mais íntimo; as palavras que não transmitem a luz de Cristo aumentam as trevas.
Os nossos progressos na santidade dependem de Deus e de nós próprios, da graça de Deus e da própria vontade que temos de ser santos. Temos de assumir o compromisso vital de atingir a santidade. «Quero ser santo» significa: quero desligar-me de tudo o que não é Deus, quero despojar o coração de todas as coisas criadas, quero viver na pobreza e no despojamento, quero renunciar à minha vontade, às minhas inclinações, caprichos e gostos, e tornar-me o dócil servo da vontade de Deus.

B. Teresa de Calcutá (1910-1997),
fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Something Beautiful for God

NO SILÊNCIO DESTE DIA…


"Senhor,
no silêncio deste dia que desperta
venho pedir-Vos paz, saúde,
sabedoria e fortaleza.
Hoje quero olhar o mundo
com olhos cheios de amor,
quero ser paciente e compreensivo,
prudente, delicado e bom.
Quero ver os Vossos filhos para além das aparências,
como Vós os vedes,
não vendo em cada um deles outra coisa senão o bem.
Fechai os meus ouvidos à calúnia
e guardai a minha língua da maledicência.

Que o meu coração
não tenha senão pensamentos de bênção.
Que eu seja tão bondoso e alegre
que todos quantos se aproximem de mim
sintam a Vossa presença.
Revesti-me, Senhor,
da Vossa beleza e que durante este dia
eu Vos revele aos homens, meus irmãos.

À Vossa Misericórdia entrego o meu passado.
Ao Vosso Amor consagro o meu presente.
À Vossa Providência confio o meu futuro.
Francisco Xavier

domingo, 21 de setembro de 2008

VINDE PARA A MINHA VINHA!


VINDE PARA A MINHA VINHA! (cf. Mt 20, 1-16)
Um patrão que emprega a todos… e ao longo do dia…
Que bom para o nosso tempo assolado pelo desemprego!
Senhor, queres revelar-nos o maravilhoso projecto do Pai:
O SEU REINO É OFERECIDO A TODOS!
A todos, Ele propõe trabalhar na sua vinha.
Eis a BOA NOVA que nos recordas sem cessar.

Mas se o início do relato nos alegra, Senhor, o final surpreende-nos.
Somos tentados a gritar à injustiça, também nós!
Que o teu Espírito nos ilumine!
S. Agostinho ajuda-nos quando diz: “Deus que nos criou sem nós,
não quer salvar-nos sem nós”.

IDE VÓS TAMBÉM PARA A MINHA VINHA!
Deus quer que todos os homens sejam salvos. (1 Tim 2,4)
Mas Ele quer o nosso acordo, a nossa participação.
Trabalhar na vinha do Senhor é acolher a sua Aliança,
é viver o amor do nosso Pai do Céu e dos nossos irmãos…
a todos é proposto, mas Deus não força; espera a nossa resposta livre.
Qual é a minha resposta?

OS OPERÁRIOS RECRIMINAM O MESTRE…
Olham para o que fizeram e atribuem-se direitos.
Tenho, por vezes, respostas de mercenário: penso mais em mim que em Ti!
Comparo-me com os outros… e estimo que mereço mais e melhor.
Que longe estou da Aliança proposta!

SERÃO MAUS OS TEUS OLHOS PORQUE EU SOU BOM?
Eleva-nos ao teu nível, Senhor, acima dos nossos interesses terrenos.
Ajusta o nosso olhar ao teu, para olhar os outros como Tu.
Faz-nos viver como irmãos.
Todos chamados ao mesmo trabalho, à mesma partilha,
a partilha da mesma mesa fraterna,
sem primeiros nem últimos, todos filhos do mesmo Pai!

P. Pierre Duvillaret
in Signes d'Aujourd'hui nº 198

ROSARIO LIVATINO, mártir pela justiça

Em Maio de 1993, o papa João Paulo II, numa visita pastoral feita na Sicília, evocou os mártires da justiça e, indirectamente da fé, que para afirmar os ideais da justiça e da legalidade pagaram com o sacrifício da própria vida o seu compromisso na luta contra as forças violentas do mal”. Fazia alusão as recentes vítimas da Máfia, particularmente ao jovem juiz Rosario Livatino, abatido três anos antes.

Rosário nascera em 1952 em Canicatti, na ilha italiana Sicília. É filho único numa família com grande ligação à magistratura. Acaba a escola com resultados excelentes. Dele dir-se-á que é “modesto e tímido, generoso, sério, simpático com todos e extremamente honesto…” Será a característica maior da sua existência: terá sempre horror às aparências e às mundanidades.
Pelo seu estudo e reflexão descobrirá que Deus é garante da liberdade e da justiça. Isto corresponde ao seu desejo e ajuda-o a escolher o seu caminho: o seu pai é advogado, ele será juiz. Sobre isso escreve: “A justiça é necessária, mas não suficiente, ela pode e deve ser dominada pela lei da caridade, que é a lei do amor: amor para com o próximo e para com Deus, mas o próximo enquanto imagem de Deus e, portanto, seguindo um modo não redutível à simples solidariedade humana”.

Em 1978, Rosario conclui com sucesso o seu curso de magistratura e torna-se juiz. Porém, nos anos 70 e 80 a Máfia domina na Sicília. A Cosa Nostra controla a maior parte do tráfico de heroína destinada aos Estados Unidos. O Estado tenta reagir mas apenas provoca um banho de sangue. A cada intervenção policial a Máfia responde por assassinatos de personalidades. O poder central decide confiar este baril de pólvora a jovens juízes vindos de toda a Itália. Rosario, residente local, naturalmente é incumbindo da mesma missão.
Contudo, Rosario não recua. Sente-se como “missionário do direito”, como ele próprio o diz: “o direito pelo direito não tem nenhum sentido, é um absurdo do sistema jurídico: exercer a justiça é a realização de si mesmo, oração, dom total de si a Deus”. Não cessa de reflectir sobre a relação justiça / fé e de o aprofundar na oração. Todas as manhãs reza numa igreja junto ao tribunal e assíduo à eucaristia dominical, alimentando-se da meditação da Sagrada Escritura e de outros autores espirituais. Homem de oração e de fé, Rosario é também um apóstolo da caridade: tem sempre atenção aos pobres, aos doentes e aos defuntos esquecidos pelas suas famílias.

Deseja fundar uma família, mas hesita e, depois, renuncia: o perigo a que se expõe a sua profissão não permite grandes planos de futuro. É uma dura prova, que ele carrega na solidão. Na preocupação de uma total independência e imparcialidade, recusa entrar no jogo dos clãs mafiosos, partidos ou movimentos. Por isso, acaba por ter poucos amigos. Essa situação afecta-o interior e espiritualmente mas ultrapassa essa fase com mais determinação.
Rosário, embora não actue no terreno, oferece-se para tratar dos casos mais sensíveis por não ter a cargo uma família. Recusa uma viatura blindada para não alarmar os seus pais, rejeita escolta pessoal para não expor a vida de outrem ao perigo. É lúcido, mas resoluto. Confia-se a Deus e a Maria.

O dia 21 de Setembro de 1990, quando se dirigia para o tribunal, o seu carro é abordado por outro, de onde saem 4 homens armados que disparam sobre ele.
No seu funeral, o bispo da diocese afirmará que a única culpa de Rosario, assassinado aos 37 anos, foi a de ter sido um “juiz perigosamente honesto” e um cristão convicto que actuou à luz da sua fé.

sábado, 20 de setembro de 2008

RECOMEÇO


É o recomeço! A rentrée!
Como todos anos, como de costume?
Não necessariamente!
Sabemo-lo bem, é importante que cada recomeço seja "novo", diferente: como estudante, operário, professor, responsável seja do que for, mudança de horário, de turma, de estabelecimento, de companheiros, novos relacionamentos, desafios, novas expectativas…
Contudo, não são os hábitos que fazem o recomeço, mas uma atitude aberta à mudança, à novidade, mesmo quando não é desejada ou prevista. Os hábitos devem estar ao serviço daquilo que acontece. Viver o recomeço relembra-nos que este “novo ano” é-nos dado a fim de vivermos renovados.
O recomeço não é apenas escolar ou profissional, apesar de vivermos condicionados ao ritmo dessa realidade. Deve ser o começo de muitos outros aspectos: a minha relação com os outros; a forma de reagir aos diversos acontecimentos; as metas que traço para mim próprio; a liberdade e a responsabilidade no uso dos bens materiais; o tempo que dedico a conhecer-me, a conhecer os outros; o lugar que dou a Deus…
Alguém dizia que “recomeçar é ressuscitar”. Não tenho de esperar que algo aconteça para ter uma vida renovada. Sou eu que tenho de a renovar através das atitudes e opções que assumir.
Acolhendo essa vida nova em mim, poderei dizer que já estou a ressuscitar…

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

POEMA A MARIA


Vós sois a janela, a porta e a cortina,
o adro, o pátio e a casa, a terra.
Sois o jardim fechado
e a fonte do jardim que lava os que estão manchados,
sois aquela que purifica os pervertidos
e a que traz vida aos mortos.
Vós sois o palácio do Rei e o trono do Rei.
Sois a estrela que brilha no Oriente
e que dissipa as trevas no Ocidente,
sois a aurora a anunciar o sol,
e o dia que ignora a noite.


Pierre, o Venerável
Poema do século XI

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

DO ARREPENDIMENTO À PAZ


Voltar a Deus com arrependimento verdadeiro
(cf. Mt 23, 13-22)
O sentimento da presença de Deus não é apenas o fundamento da paz numa consciência recta; é também o fundamento da paz no arrependimento. À primeira vista, pode parecer estranho que o arrependimento do pecador produza nele conforto e paz. É certo que o evangelho promete transformar toda a dor em alegria; temos, pois, de nos alegrar até na dor, na fraqueza e no desprezo. Gloriamo-nos «também nas tribulações [...] porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido», diz o Apóstolo Paulo (Rom 5, 3-5). Mas, se há dor que pode parecer um mal absoluto, que continua a ser um mal no reinado do evangelho, é claramente a consciência de não termos correspondido ao evangelho. Se há momento em que a presença do Altíssimo pode parecer-nos intolerável, é o momento em que tomamos subitamente consciência de termos sido ingratos e rebeldes para com Ele.

E, contudo, não há arrependimento verdadeiro que não seja acompanhado pelo pensamento de Deus. O homem arrependido pensa em Deus no seu coração, porque O procura; e procura-O porque é movido pelo amor. É por isso que a própria dor de ter ofendido a Deus deve ser acompanhada por uma certa doçura, a doçura do amor. O que é o arrependimento, senão o impulso do coração, que nos leva a entregar-nos a Deus, quer para o perdão, quer para a correcção, a amar a Sua presença por si mesma, a preferir a correcção que Dele provém ao repouso e à paz que o mundo poderia oferecer-nos sem Ele? Enquanto vivia nos campos, com os porcos, o filho pródigo sentia dor, mas não se sentia arrependido; limitava-se a ter remorsos. Quando, porém, começou a sentir-se verdadeiramente arrependido, levantou-se, voltou para junto do pai, a quem confessou que pecara, libertando assim o coração da sua miséria. O remorso, aquilo a que o Apóstolo Paulo chama «a tristeza do mundo», produz a morte (2Cor 7, 10). Em vez de voltarem para junto da fonte da vida, do Deus da consolação, aqueles que estão cheios de remorsos limitam-se a revolver as próprias ideias, sem conseguirem confiar a ninguém a dor que sentem. [...] Precisamos de conforto para o nosso coração, a fim de que ele saia das trevas e abandone a tristeza. [...] Mas só a presença de Deus pode ser para nós refúgio verdadeiro.


Cardeal John Henry Newman
(1801-1890)

ACREDITAR

Muitas vezes, a nossa vida teria outro encanto se, simplesmemte, acreditássemos nela.