quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A MÃE DE TODAS AS MÃES


Eis o relato de um soldado da 1ª Guerra Mundial que vale a pena ler:

No verão de 1918, os nossos ulanos (lanceiros de alguns antigos exércitos europeus) ocuparam a Ucrânia avançando até a Crimeia. Eles lutaram contra os comunistas liberando a região das mãos dos guerrilheiros vermelhos. Eis que, de repente, numa cidade que havia sido quase que inteiramente incendiada, fomos apanhados numa cilada. Após violento combate, fomos todos presos. Éramos doze homens.

Arrastaram-nos para a cidade mais próxima, onde fomos interrogados. O chefe era um checo de Praga, um desertor que falava perfeitamente alemão. Este homem cismou, particularmente, comigo. Apropriando-se da minha carteira, dela retirou uma medalha, antiga peça em prata, com a imagem da Virgem Maria.
Eu recebera esta lembrança da minha mãe, quando deixara a cidade, para que me protegesse de todo o mal, pois a medalha já resguardara meu pai, meu avô e meu tetravô de tantos perigos. Naquele momento o miserável tinha, contra a luz, a Virgem Mãe nas suas mãos; examinando-a, parecia estar a sorrir. Seria troça, indulgência ou emoção? Impossível saber. Em seguida leu, em voz alta, a inscrição, que é a divisa da nossa família: "Meiner Liebe Glut leuchtet nicht minder als die Sterne": "A chama do meu amor não brilha menos do que as estrelas."

Eis, pois, a medalha entre as mãos de um bolchevique. Por que motivo eu não a tinha usado no peito como meus pais? A minha mãe colocara-a no meu pescoço, abraçando-me, no dia em que parti. Eu tinha vergonha daquela piedosa "superstição". Colocara, então, a medalha na carteira...
Vendo o meu tesouro em mãos estrangeiras, o meu coração revoltou-se; avancei contra o checo, arrancando a medalha das suas mãos. Este começou a rir, maldosamente: "Hei! capitão, o senhor parece que põe a sua confiança num feitiço. E ainda por cima é falso, pois não lhe trouxe sorte alguma... Se por esta coisa eu lhe concedesse algum favor, o senhor vendê-la-ia?"
Não respondi a uma pergunta tão insolente. O checo aproximou-se, gritando cheio de raiva: "Destrua!" Eles encarceraram-nos numa sala de aula, onde nos pudemos deitar. Atormentado, cheio de medo, não consegui dormir naquele leito de palha.

Por volta da meia-noite, despertaram-me e ordenaram-me que saísse. O checo esperava-me do lado de fora. Ele exalava odor de vodka, embora não estivesse bêbado. Fez-me, então, um sinal convidando-me a acompanhá-lo no pátio da escola... "Eu fi-lo vir até aqui, capitão, para ajudá-lo e, talvez, para receber a sua ajuda, igualmente, pois o ser humano não deve perecer neste tempo inumano! Sei o que o senhor está a pensar, o senhor acha que sou um cão cínico e não está de todo errado. No entanto, como posso expressar-me sem parecer falso ou covarde? Segundo o desejo de meus pais, eu deveria ter-me ordenado sacerdote. E hoje, eis que sou um bolchevique, um comunista, um apóstata. Quando saí de casa, minha mãe colocou-me uma moeda benta, ao pescoço, representando a Virgem Maria que deveria, segundo ela, trazer-me felicidade. Hoje, um sentimento de tristeza amparou-se de mim, quando coloquei a sua medalha entre as minhas mãos; tive que lutar contra esta estúpida emoção... Eu ainda possuo aquela lembrança dada pela minha falecida mãe. Ei-la aqui!"
O Checo tirou do bolso uma moeda antiga, em prata. A efígie do escudo representava a Mãe de Deus, aureolada como Soberana da Boémia. E ele continuou: "Curioso! Eu sempre gostei de Maria; não tenho nenhum sentimento de rancor contra Ela. Talvez seja porque Ela é a Mãe de todas as mães. O amor de nossas mães deve ser sagrado para nós!" Ao dizer estas palavras, seu rosto expressava um sentimento de dor. Em seguida, acrescentou: "Pelo amor da sua mãe e da minha, tenho vontade de fazer com que o "feitiço" se realize. Quando continuarmos a caminhada, o senhor encontrará um meio para fugir." Em seguida, mudando o tom da voz e a postura e, olhando à sua volta, acrescentou: "Pode ser que eu esteja enganado... Amanhã nós recuaremos diante dos Alemães. Na estrada vamos soar o alarme. Haverá uma certa desordem. O senhor saberá aproveitar-se da ocasião, capitão!". Olhei, estarrecido, para o homem e perguntei: "E meus homens?"... Ele, fazendo um sinal irritado, disse: "Tudo vai correr bem! Boa sorte e boa noite!". Indeciso, estendi-lhe a mão.

No dia seguinte, os russos batiam em retirada, levando-nos com eles... Repousávamos numa granja abandonada. Subitamente, alguém chamou os guardas. Bela ocasião para fugir. Tomamos, então, a direcção do Sul e logo encontramos as nossas tropas. O Checo manteve a sua palavra.”

Testemunho de um velho oficial da Grande Guerra,
segundo R. Demi ! Ein Mutterherz fur allé, pp. 118-121
retirado do site: www.mariedenazareth.com

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