domingo, 21 de setembro de 2008

ROSARIO LIVATINO, mártir pela justiça

Em Maio de 1993, o papa João Paulo II, numa visita pastoral feita na Sicília, evocou os mártires da justiça e, indirectamente da fé, que para afirmar os ideais da justiça e da legalidade pagaram com o sacrifício da própria vida o seu compromisso na luta contra as forças violentas do mal”. Fazia alusão as recentes vítimas da Máfia, particularmente ao jovem juiz Rosario Livatino, abatido três anos antes.

Rosário nascera em 1952 em Canicatti, na ilha italiana Sicília. É filho único numa família com grande ligação à magistratura. Acaba a escola com resultados excelentes. Dele dir-se-á que é “modesto e tímido, generoso, sério, simpático com todos e extremamente honesto…” Será a característica maior da sua existência: terá sempre horror às aparências e às mundanidades.
Pelo seu estudo e reflexão descobrirá que Deus é garante da liberdade e da justiça. Isto corresponde ao seu desejo e ajuda-o a escolher o seu caminho: o seu pai é advogado, ele será juiz. Sobre isso escreve: “A justiça é necessária, mas não suficiente, ela pode e deve ser dominada pela lei da caridade, que é a lei do amor: amor para com o próximo e para com Deus, mas o próximo enquanto imagem de Deus e, portanto, seguindo um modo não redutível à simples solidariedade humana”.

Em 1978, Rosario conclui com sucesso o seu curso de magistratura e torna-se juiz. Porém, nos anos 70 e 80 a Máfia domina na Sicília. A Cosa Nostra controla a maior parte do tráfico de heroína destinada aos Estados Unidos. O Estado tenta reagir mas apenas provoca um banho de sangue. A cada intervenção policial a Máfia responde por assassinatos de personalidades. O poder central decide confiar este baril de pólvora a jovens juízes vindos de toda a Itália. Rosario, residente local, naturalmente é incumbindo da mesma missão.
Contudo, Rosario não recua. Sente-se como “missionário do direito”, como ele próprio o diz: “o direito pelo direito não tem nenhum sentido, é um absurdo do sistema jurídico: exercer a justiça é a realização de si mesmo, oração, dom total de si a Deus”. Não cessa de reflectir sobre a relação justiça / fé e de o aprofundar na oração. Todas as manhãs reza numa igreja junto ao tribunal e assíduo à eucaristia dominical, alimentando-se da meditação da Sagrada Escritura e de outros autores espirituais. Homem de oração e de fé, Rosario é também um apóstolo da caridade: tem sempre atenção aos pobres, aos doentes e aos defuntos esquecidos pelas suas famílias.

Deseja fundar uma família, mas hesita e, depois, renuncia: o perigo a que se expõe a sua profissão não permite grandes planos de futuro. É uma dura prova, que ele carrega na solidão. Na preocupação de uma total independência e imparcialidade, recusa entrar no jogo dos clãs mafiosos, partidos ou movimentos. Por isso, acaba por ter poucos amigos. Essa situação afecta-o interior e espiritualmente mas ultrapassa essa fase com mais determinação.
Rosário, embora não actue no terreno, oferece-se para tratar dos casos mais sensíveis por não ter a cargo uma família. Recusa uma viatura blindada para não alarmar os seus pais, rejeita escolta pessoal para não expor a vida de outrem ao perigo. É lúcido, mas resoluto. Confia-se a Deus e a Maria.

O dia 21 de Setembro de 1990, quando se dirigia para o tribunal, o seu carro é abordado por outro, de onde saem 4 homens armados que disparam sobre ele.
No seu funeral, o bispo da diocese afirmará que a única culpa de Rosario, assassinado aos 37 anos, foi a de ter sido um “juiz perigosamente honesto” e um cristão convicto que actuou à luz da sua fé.

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