Faz hoje 21 anos que Portugal festejava uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul. É um feito tão raro que vale a pena assinalá-lo. A 22 de Setembro de 1988, a “nossa” Rosa Mota finalizava a prova rainha dos Jogos, a Maratona, no primeiro lugar.
Muitos recordam as imagens da alegria da atleta, partilhada por toda uma nacionalidade que se orgulhava, depois de Carlos Lopes em 1984, de ver as suas cores e hino encher novamente um estádio, no espaço de alguns instantes.
Para a Rosa, uma medalha. Para todos os portugueses, a vaidade (legítima) de o ser.
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Mas o que mais aprecio nas provas de atletismo é aquilo que, precisamente, não se vê. Por breves momentos, assistimos ao final da prova, ao triunfo, à volta de honra e à glória do pódio. Alguns minutos de fama que ficam para a posteridade. É a face visível da medalha pendurada ao pescoço.
Mas toda a medalha tem outra face, aquela que não fica exposta. Aquela que permite e legitima a primeira. É a face do esforço quotidiano, anónimo, não reconhecido nem aplaudido. A perseverança solitária de um ano inteiro (ou quatro, quando tudo se aposta nos Jogos). Faça sol ou faça frio. Com mais ou menos apoio de patrocinadores, a entrega do atleta é total na sua preparação. A fama do estádio virá somente no fim… se vier… e só para uns poucos medalhados.
A nossa vida é uma longa maratona, sem conta-quilómetros. Uma longa prova que exige (merece) toda a nossa entrega. É, aliás, essa doação que fazemos de nós mesmos que dá vida à nossa existência. É a distinção entre vivência e sobrevivência. A vida que damos aos nossos anos, mais do que os anos que cumulamos durante a vida, é a medalha que transportamos. Mais que levá-la ao pescoço, carregamo-la no coração e na memória dos momentos dados, abraços e sorrisos partilhados, gestos e esforços oferecidos pelos outros, com os outros. não competindo, mas construindo.
Pouco subirão ao pódio….
Mas que importa!
E se amar, à maneira de Jesus Cristo, sei que chegarei sempre primeiro!
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