quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sœur EMMANUELLE, mendiga por amor


Teria completado 100 anos se tivesse vivido mais um mês. Faleceu este passado dia 20 de Outubro a Sœur (irmã) Emmanuelle. Pouco conhecida entre nós, era uma personalidade de referência em França, Bélgica e mundo árabe, sobretudo no Egipto. Para aqueles que a conheciam era um “ícone da solidariedade e apoio dos pobres e marginalizados.

Nasceu em Bruxelas a 16 de Novembro de 1908 com o nome de Madeleine Cinquin. Filha de pai francês, possui as duas nacionalidades: belga e francesa. Mais tarde, em atenção à obra desenvolvida no Cairo, o presidente Moubarak conceder-lhe-á a nacionalidade egípcia. Cidadã do mundo e advogada dos pobres, a existência de Madeleine começa na comodidade de uma família abastada. Bruxelas, Londres, Paris aconchegam a sua infância. Mas aos 6 anos perde o pai. Esse acontecimento doloroso aproximá-la-á de Deus. É o princípio de uma relação que definirá a sua vocação à vida consagrada.
Em 1929, ingressa na Congregação de Nossa Senhora de Sião. Dois anos mais tarde, ao professar assume aquele que passará a ser o seu novo nome: Irmã Emmanuelle (Deus connosco – em Hebraico). É enviada para Istambul, Turquia, onde ensina filosofia e outras matérias. Mais tarde, a mesma função, na Tunísia e, finalmente, no Egipto.

Porém, essa vida de ensino não corresponde ao seu anseio de se dar aos pobres por amor de Cristo. Em 1971, já com 62 anos, volta-se definitivamente para os bairros onde a miséria reina. Decide partilhar a vida dos mais desprovidos. Como ela dizia, “aquele que deixa Deus viver no seu coração não pode desprezar ninguém”. Parte e instala-se num dos bairros de lata mais pobres do Cairo, onde as pessoas vivem do lixo que recolhem nas descargas públicas. Colaborando com as diversas igrejas locais, consegue estabelecer uma comunidade e lança diversos projectos de saúde, edução e protecção social tendo em vista o melhoramento das condições de vida.


É o princípio de uma obra que não conhecerá fronteiras. A sua acção estende-se a outros bairros, cidades e chega ao Sudão. Começa a ser conhecida e Sœur Emmanuelle aproveita a sua notoriedade para angariar fundos e ajudas. Para ela, contudo, não se trata de mera compaixão pelos pobres. “Não são os ‘meus’ pobres, mas os meus irmãos e minhas irmãs, com os quais tenho a alegria de partilhar uma vida pobre”. Quando em 1993 deixa o Egipto, são cerca de 85% das crianças que ela levou à escolarização, a violência que diminuiu no bairro marginalizados e as bases da liberdade das mulheres que ela deixou como herança, após 22 anos de entrega ao amor pelos 'esquecidos da sociedade'.

Regressada à França, dedica-se à oração, à escrita de vários livros e à acção de sensibilização de toda a sociedade em favor de um maior compromisso solidário. Funda algumas associações com fins caritativos. Juntamente com o Abbé Pierre, são para os franceses o rosto da caridade, pela radicalidade da entrega e pela franqueza na denúncia das injustiças.
Mas sem sombra de dúvida, foi o seu amor por Jesus que a levou pela mão, pelos caminhos da generosidade e da fé. A Eucaristia era para ela uma fonte onde restaurava as forças: “todas as manhãs eu tinha a impressão de correr para um encontro de amor!

Antes de falecer, deixou uma mensagem: “Toda a minha vida, quis testemunhar que o amor é mais forte que a morte. (…) A vida jamais se interrompe para aqueles que sabem amar".

Como seria bom todos podermos dizer como Sœur Emmanuelle: “Jesus-Amor, sempre foste o meu vencedor, ensinaste-me a viver”.
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