quarta-feira, 1 de outubro de 2008

JACQUES FESH, o "bom ladrão" do século XX


25 de Fevereiro de 1954, 18 horas: um cambista é assaltado e ferido à martelada no seu local de trabalho. O agressor escapa-se mas é perseguido pelos transeuntes. Em pânico, o ladrão dispara ao acaso sobre os seus perseguidores. Atinge mortalmente um polícia. O agressor é detido, encarcerado e condenado à morte, pena então em vigor em França.
Seu nome: Jacques Fesh.
Tem apenas 24 anos. É filho de boa família mas cujo ambiente não é bom: os pais discutem constantemente, o pai anda sempre em viagens e demite-se da educação dos seus filhos. Na escola e no trabalho Jacques não consegue assumir nenhum compromisso duradouro. Uma tentativa de empresa acaba em falência. Nada do que empreende tem fim. Casa com Pierrette de quem tem uma filha, Veronique. Porém, isso não é suficiente. Começa, então, a sonhar com uma louca ilusão: partir para longe, numa viagem marítima que o leve ao outro lado do mundo. Para isso, é preciso um barco, mas sem dinheiro, só lhe resta roubar. E acontece a desgraça.

Na prisão
Jacques apercebe-se do erro cometido. “Quanto mal fui capaz de fazer à minha volta com o meu egoísmo e a minha inconsciência”. Arrepende-se, mas isso não basta. Deus vai transformar esse rebelde imaturo servindo-se de três instrumentos: o capelão que vence a sua resistência inicial, um frade que passa a escrever-lhe e o advogado cristão que aceita defendê-lo. Ao longo dos meses, Jacques transforma-se radicalmente: “Tentava acreditar pela razão, sem rezar ou tão pouco! E, depois… brutalmente, em poucas horas, possuí a fé, uma certeza absoluta. Acreditei e não compreendi mais como fazia para não acreditar… A graça visitou-me, uma grande alegria e, sobretudo, uma grande paz se apoderou de mim… Tenho agora a certeza de começar a viver pela primeira vez.”
“É a primeira vez que choro lágrimas de alegria, pela certeza de que Deus me perdoou e que Cristo vive em mim através do meu sofrimento e do meu amor… Sinto agora uma nova força em mim, uma certeza absoluta: dar-me inteiramente ao Seu Amor. Neste momento, só Ele importa… A sua acção é imperceptível e eficaz: prende-me e eu sou livre, transforma o meu ser e, no entanto, nunca deixei de ser eu…”
Na verdade, torna-se ele próprio. Deus revela-lhe quem é verdadeiramente Jacques Fesh. Descobre-se na luz de Deus. Maior do que julgávamos, mais profundo do que ele mesmo pensava. O encontro com o seu Senhor traz à luz do dia o melhor que tem em si, do que ele é.
Jacques é agora um incansável evangelizador. A sua preocupação constante: que aqueles que ele ama encontrem, como ele, Jesus.

É na leitura da Bíblia e da vida de santos, na oração e na eucaristia que Jacques vai buscar a força porque a luta continua: “O meu olhar mudou, mas os meus hábitos de pensamento e de comportamento ainda não mudaram: Deus deixou-os onde estavam. É preciso lutar, adaptar-me, reconstruir as instalações interiores, e não posso estar em paz senão aceitar esta guerra… Encontrei a paz mas, ao mesmo tempo, a luta… Quanto mais progrido mais me apercebo da minha miséria e do caminho infinito que me resta percorrer. (…) A religião não é conforto, mas será sempre, num certo sentido, uma conversão.”

Sentenciado à morte
Entretanto, começa o julgamento. A justiça, pressionado pelo sindicato dos polícias e a imprensa, quer dar um exemplo: Jacques é condenado a morrer guilhotinado. Embora se sinta vítima de uma sentença viciada desde o início, Jacques aceita a sua sorte com uma impressionante serenidade: “Se sou rejeitado pelos homens, é porque o Senhor quer dar-me o maior dos bens: a glória em Cristo ressuscitado… Sei agora que tudo é graça… O que Jesus quer de mim é o total abandono da minha vontade à Sua, a aceitação positiva do castigo que me fazia rebelar. Justo ou injusto, já não importa, tudo está perdoado, tudo foi abundantemente resgatado, tudo é confiança na Sua Misericórdia… Resta-me pouco tempo para amá-l’O como devia. Não sou eu que amo Jesus, é Jesus que ama através de mim”.
É tal a união que vive com Jesus que afirma: “Em vez de morrer estupidamente, vou poder oferecer a minha morte por aqueles que amo… Sei que, no momento presente, sou o mais privilegiado dos homens, porque o que me vão dar está em desproporção com o que me tiram, e, mesmo que pudesse, não trocaria a minha sorte pela de um rei do petróleo…”
Sente, igualmente, a força da presença de Maria e, especialmente, de Santa Teresa do Menino Jesus. Curiosamente, Jacques será executado na noite de 30 de Setembro para 1 de Outubro de 1957, a mesma noite em que faleceu a santa de Lisieux, cinquenta anos antes.
Nos últimos meses de vida, Jacques escreveu um diário, única herança de um pai para a sua filha Veronique, uma verdadeira preciosidade espiritual. Nas últimas linhas escritas, pode ler-se:
“Daqui cinco horas verei Jesus. Tão bom que é Nosso Senhor!”

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