sábado, 5 de dezembro de 2009

OLGA BEJANO, voando alto com "asas quebradas"


Há um ano, falecia Olga Bejano.

Durante 22 anos viveu totalmente dependente. Com 23 anos e muitos projectos e sonhos na mente e no coração sofreu uma paralisia da glotis com paragem cardíaca por asfixia. Esteve 6 minutos morta clinicamente a que se seguiu 5 dias de coma. Uma desconhecida patologia provocada pela anestesia durante a cirurgia fez o resto.

Foi o princípio de um rápido processo que paralisou o seu corpo. Em pouco tempo estava numa cadeira de rodas, conectada a um respirador, alimentada por uma sonda e calada para sempre. De um dia para outro, esta jovem cheia de vida tornou-se num ser dependente dos demais, até para ver, pois nem sequer levantar as pálpebras conseguia. “Dei-me conta que não poderia mais; conduzir; apaixonada tinha de romper com a relação.”

Mesmo assim, Olga decidiu agarrar-se à vida, a este mundo e contagiar o máximo possível de pessoas com a sua força de viver. Através do impulso do seu joelho conseguia fazer uns rabiscos que só a sua mãe, sua enfermeira e poucas mais pessoas decifravam. Publicou quatro livros (Voz de Papel; Alma cor de Salmão; Os Rabiscos de Deus) e estava a trabalhar num quarto (“Asas quebradas” entretanto publicado). “Quando a enfermidade truncou a minha vida, decidi criar em vez de chorar”.

Olga podia falar sobre esta situação tão delicada porque, dizia ela, falava desde o centro da praça, com o touro pela frente e não desde as bancadas: “A minha matéria está presa, mas os meus pensamentos e sentimentos são livres. Ninguém pode pensar ou sentir por mim. Nisto sou totalmente livre, há quem pense que eu sou apenas um vegetal e que a minha vida não tem sentido, mas sou um vegetal que pensa e sente, e capaz de escrever e fazer com que os outros pensem e sintam.” Outra imagem: “Ainda que a rama da minha vida esteja quebrada, a minha raiz segue viva e faz com que milagrosamente dê frutos.”

Os seus livros têm sido um desafio à esperança para os seus leitores. Vários testemunharam ter desistido do suicídio através da sua leitura.


Lutadora de fé e esperança

Sempre que, pelos meios de comunicação social, se apercebe de alguém desesperado, prestes a desistir da sua luta, Olga intervém, contacta e expressa a sua opinião para partilhar a sua perspectiva desde a fé.

Por vezes, sente o cansaço e o esgotamento da luta, mas reconhece que o seu sofrimento tornou-se “uma lição constante” de amadurecimento e de desafio a superar-se a si mesma. “O sofrimento e a morte estão incluídos na vida, formam parte dela. Sou partidária de lutar, não de fugir. A eutanásia é uma forma de fuga e, portanto, não deixa de ser uma cobardia. A mim, não me geraram cobarde, por isso, com a ajuda de Deus, lutarei até ao fim. Respeito e entendo aqueles que se dão por vencidos e não crêem em nada, mas eu, quando chegar ao “outro lado”, quero ter a sensação de ter cumprido os meus deveres”.

Olga, na sua situação dramática não era uma pessoa resignada, muito pelo contrário. Dedicou muito das suas energias a reivindicar maiores direitos para as pessoas dependentes: “Lutarei até ao último segundo da minha vida, para que, apesar de ser uma enferma não rentável, me seja proporcionada uma assistência digna, custe o que custar.”


Felicidade desafiante

Olga colheu da sua condição fisicamente limitada uma oportunidade de crescimento espiritual: “Estou convencida de que sem tanto sofrimento como estou a ter nunca teria chegado a um crescimento pessoal tão importante e uma maturidade espiritual tão impressionante. Apesar do muito que sofri, o que estou a sofrer, e só Deus sabe quanto me resta ainda por sofrer, sinto-me uma pessoa afortunada.”

O segredo da força e coragem desta mulher, naturalmente reside em Deus e na sua relação com Ele: “Quando era um cisne, passava o dia olhando para o meu reflexo, admirando a minha beleza. Ao torna-me patinho feio, deixei de olhar para a minha imagem. Nesse momento, comecei a ver a Cruz, conheci o Senhor e só se ama o que se conhece. Ao amá-l’O, entendi como e quanto me ama a mim.”

E concluía dizendo: “Que sorte tive em nascer!”


Lê também o artigo escrito aquando do seu falecimento:

http://sdpv.blogspot.com/search?q=OLGA+BEJANO

Ou visita o seu blogue que amigos e familiares mantêm activo:

http://olgabejanodominguez.blogspot.com/

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