sábado, 30 de outubro de 2010

QUIM TÓ, o “pequeno santo” da Beira


Era uma criança muito viva e irrequieta, agressiva, de tal maneira que o pai o chamava “barril de pólvora” e a avó de “pombo bravo”.
Joaquim António Osório Dias Gonçalves, de seu nome completo, nasceu na “nossa” Gouveia, a 10 de Junho de 1949.
Em Outubro de 1955 vai para a escola. Embora inteligente não era aplicado. Pouco pontual dizia do professor, para se justificar: “Bater não bate e ralhar não dói”. É um exemplo de traquina e espertalhão. Engenhocas, desmonta e volta a montar tudo o que encontra. De tal modo que decide ser, quando for grande, engenheiro.
Em Dezembro de 1958 aparecem os primeiros sintomas da doença que o iria vitimar. Doença essa que progride e o impede de continuar na escola. Entre os tratamentos e o sofrimento cada vez maior o Quim Tó transforma-se, tornando-se mais dócil e, sobretudo, ganhando uma vida espiritual cada vez mais intensa. Passa a comungar diariamente. “Afinal, só agora estou a perceber que a doença me fez muito bem!
Antes, tão cioso das suas coisas, permite agora que os seus irmãos brinquem com os seus brinquedos. Diante do sofrimento, inicialmente dizia “Aceito”; por fim dizia: “Ofereço”.
O Quim Tó tornou-se doce, manso e condescendente.
A 21 de Junho de 1960 é crismado pelo D. João de Oliveira Matos. Questionado sobre o dom do Espírito Santo por ele mais desejado, respondeu: “a Fortaleza, para suportar a doença”. Mais tarde disse: “Parece que o Espírito Santo me está a ajudar, pois já sinto mais vontade de rezar”.
Sinal disso era a maneira como vivia a eucaristia: “A missa vale mais que a Serra de Estrela cheia de ouro”.
Por fim, queria já ser engenheiro, para as coisas da terra, e padre, para as coisas do céu.
Teve conhecimento dos exemplos de crianças que testemunharam da sua fé e amor a Deus: Nenolina, Guy de Fontgalland e Domingos Sávio que ele tomou como exemplo.
Inscreveu-se na “Cruzada Eucaristia das crianças”, tornando-se um verdadeiro apóstolo: oferecia o sofrimento e oração pelas almas. Chegava a rezar o Rosário completo. Tinha particular atenção em evangelizar os seus irmãos.
Uma amiga da família dirá dele: “Com 40 de febre, a escaldar, ou livre dela, os seus olhos e o seu sorriso são uma mensagem do céu”.

Carta a João XXIII
Sugeriram-lhe que escrevesse ao papa, João XXIII, que acabara de convocar a Igreja para um novo Concílio. O Quim Tó revela-se plenamente na pequena missiva que envia para Roma:
Santíssimo Padre:
Venho escrever a Vossa Santidade para dizer que ofereço a minha doença e a minha vida pelo Concílio Ecuménico, pela conversão dos pecadores e pela Igreja perseguida.
Tenho 11 anos e estou doente a dois.
Quis ser engenheiro, depois quis ser padre-engenheiro, mas agora só quero o que for da Vontade de Deus.
Peço que seja Vossa Santidade a oferecer-me em união com Jesus à Santíssima Trindade e peço ainda para me abençoar.
Joaquim António Osório Dias Gonçalves
Gouveia, Agosto de 1960"

João XXIII responderá com um telegrama e o envio de uma fotografia autografada. Todavia, o Quim Tó acabaria por falecer antes do início do Concílio, no dia 30 de Outubro de 1960.
Faz hoje 50 anos.

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