Em Maio de 1940, fugindo das forças alemãs, centenas de milhares de refugiados encontram em Bordéus. Muitos deles acorrem às portas do consulado português. Sendo Portugal um país neutral nessa guerra, Lisboa tornou-se a cidade a atingir como saída para a liberdade, embarcando daí para a América. O importante, é conseguir sair de França. Aristides hospeda em sua casa um desconhecido com a sua família: um rabino judeu Jacob Kruger. É uma conversa entre ambos que iluminará a consciência do cônsul português: “Não somente a mim que é preciso ajudar, mas todos os meus irmãos que arriscam a morte”. O peso desta verdade prostrou o diplomata três dias de cama, sem falar.
Ao terceiro dia reergueu-se, cheio de uma nova energia: decidira conceder vistos a quantos lho pedissem. Em poucos dias, assinará milhares deles. Acabados os formulários oficiais, são pedaços de papel que fazem ofício: o que importa é a sua assinatura e o carimbo consular. Assim será das 8 da manhã até às 3 da madrugada.
Todavia, em Lisboa a visão é outra. Aristides de Sousa Mendes é avisado: “qualquer outro erro seu será considerado desobediência ao poder e acarretará um processo disciplinar”. Salazar, que na época acumulava a pasta de Primeiro-ministro e o ministério dos assuntos estrangeiros, fizera saber que não fossem concedidos vistos a pessoas vindas de Leste e judeus. Era preciso impedir a entrada de “pessoas indignas” em território nacional. O cônsul português de Bordéus pensa de outra forma: “Se tenho de desobedecer, que seja à ordem de um homem e não à de Deus”. “Se tantos judeus sofrem nas mãos de um cristão, Hitler, nada há de chocante que um cristão sofra por tantos judeus”.
A 22 de Junho, a França capitula. A chegada dos nazis resume-se a uma questão de horas. Dois funcionários do governo português são enviados para dar ordem de regresso a Portugal ao cônsul rebelde. Na viagem, pára em Bayonne, sub-consulado. Ao ver uma grande multidão, desce e questiona o vice-cônsul aí responsável que obedece fielmente às ordens de Lisboa. Aristides impõe-se como ainda seu superior e assina ele próprio mais vistos, de pé, em plena rua. Ao chegar à fronteira de Hendaye depara-se com nova multidão que beneficiara dos seus vistos. A fronteira está fechada para eles. Aristides convida-os a seguir o seu carro em marcha lenta. Decide-se por outra rota, através de um posto fronteiriço sem telefone e que, por isso ainda não tinha recebido ordens do governo português. Aristides de Sousa Mendes, qual novo Moisés, seguindo por centenas de refugiados, passa a fronteira, conduzindo-os para a liberdade.
Somente em 1987, quase cinquenta anos depois dos factos, será reabilitado pelo governo português. Mais vale tarde do que nunca.
Em Israel, existe uma floresta de 10 mil árvores, a recordar as vidas por ele salvas. E o exemplo da sua conduta, dirigida pela sua consciência cristã, não desaparecerá jamais.
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