segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O TESOURO DESCOBERTO E PERDIDO


Há seis anos atrás, neste dia 9 de Fevereiro, uma criança de nove anos encontrou, numa travessa de Montreal, um cofre-forte aberto, surpreendentemente abandonado na via pública. Mas a maior descoberta estava no seu interior: 10 000 dólares em notas de cinquenta. O rapazinho, residente num centro de acolhimento, apressou-se a regressar com a sua mochila bem repleta, com o intuito de maravilhar os seus amigos com tamanha fortuna. Dizem que o dinheiro não tem cheiro nem sabor, mas os responsáveis do centro acabaram por se aperceber do segredo e, com eles, a polícia. O recém-afortunado de palmo e meio bem que fugiu mas sem sucesso. Ainda lhe explicaram que mais tarde, talvez, se ninguém aparecesse a reclamar esse dinheiro este lhe seria devolvido. TALVEZ…
A minha fonte não explica se esse “mais tarde” chegou e se o consequente “talvez” se concretizou. O “nosso” rapaz terá agora quinze anos. Desconheço se ainda acredita em promessas ou se já aprendeu o suficiente para procurar um novo tesouro, um tesouro que não lhe seja confiscado.

Já Jesus no-lo avisara no Evangelho de Mateus (6, 19-20): «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam Jesus justificava-se acrescentando: «Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.» (21) O verdadeiro tesouro, do qual depende a autêntica felicidade está no nosso coração. Se este se prende áquilo que se perde, corrompe ou possa ser “roubado” então é o próprio coração que se perde. Cristo propõe-nos uma liberdade maior, uma independência de tudo quanto nos faça sentir dependentes de coisas que valem menos que a nossa vida. Aqui está a nossa maior incoerência: dar mais valor às riquezas, títulos ou fama que à nossa liberdade e felicidade.
Evidentemente que os “tesouros no céu”, de que nos fala Jesus, levam mais tempo a acumular. Mas como dizia o famoso escritor Fedor Mikhaïlovitch Dostoïevski, falecido nesta data no ano de 1881, “Podem ter a certeza de que não foi quando descobriu a América, mas sim quando estava a descobri-la, que Colombo se sentiu feliz.”
Temos a tendência de gastar a vida a perseguir tesouros para edificar a nossa felicidade quando, afinal, a vida é o tesouro que deve construir a felicidade quotidiana. E esta não depende do “mais tarde” nem do “talvez” com que iludiram o rapazinho de Montreal.

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