sábado, 10 de julho de 2010

900 MIL QUILÓMETROS PARA CHEGAR A DEUS, novos sacerdotes (parte II)


O Luís Miguel Alves Nobre fez o equivalente a 20 voltas ao mundo.

Natural do Alentejo, partiu da sua terra adoptiva, Vilar Formoso, percorrendo a Europa num camião TIR até passar o volante a Deus. No passado dia 27 de Junho chegou onde o Senhor o chamava: ao sacerdócio.


Agora com 29 anos de idade, este “camionista de Deus” tem certamente muito para nos contar. O Padre Luís Nobre partilha, pois, um pouco da sua aventura connosco. Antes de mais vale a pena recordar como tudo começou: A minha caminhada vocacional teve início na minha paróquia, onde através de uma interpelação deixada por um sacerdote, ficou uma semente que com o passar do tempo foi crescendo e amadurecendo. Ao princípio tentei ignorar esta voz, este desejo, esta atracção, tentei com todas as minhas forças lutar contra ela, mas ela foi crescendo de tal modo que me seduziu. Ao entrar no Seminário tive a oportunidade de discernir a autenticidade da minha vocação. São seis anos em que realizamos uma intensa e forte experiência humana, espiritual, intelectual e pastoral.”


Pelo meio dessa caminhada surgiu essa experiência atípica mas certamente marcante da estrada. Como foi isso? “A paragem que eu fiz nos estudos de teologia, entre o 3º e o 4º ano foi o momento nevrálgico da minha vocação. Diziam que, uma vez saído, já não se voltava, mas eu sou a prova viva de que é possível regressar e concluir a caminhada. Esta paragem de 2002 a 2006 foi aproveitada para fazer uma experiência nos camiões, e com esta experiência tive a certeza de que estes retiros monásticos na solidão e em movimento me conduziram ao sacerdócio e me deram mais serenidade e maturidade para compreender a vida e a minha própria vocação, a vontade de Deus para o meu presente. Não tenho dúvidas de que, se não fosse esta paragem, se não tivesse tido a oportunidade de reflectir sem interferências de ninguém, de parar para reflectir, não estaria aqui hoje a escrever estas palavras. Deus venceu-me e vence na minha vida. Sem o serviço, a minha vida era estéril, vazia e sem sentido. Só no serviço altruísta, pelo outro e com o outro, vale a pena viver.”

Mas a vida do neo sacerdote não foi feita só de asfalto e solidão. Muitos rostos povoaram a sua descoberta de Deus e da sua vontade. A memória e a gratidão não são coisas que faltem ao Luís: “Na minha caminhada vocacional tive pessoas que me marcaram: a começar o Pe Ezequiel Augusto Marcos, o Pe Alfredo Pinheiro Neves e o Pe Serafim Reis, o Pe Henrique Manuel Rodrigues dos Santos, o Pe José Manuel Dias Figueiredo e o Pe Valter Tiago Salcedas Duarte. Não posso esquecer a minha amizade com o agora finalista Marcelo Xavier. A comunidade das irmãs, que pertencem à congregação espanhola Beata Nazaria Ignácia, em especial a minha “directora espiritual”, a irmã Visitacion.”


Após a formação académica, seguiu-se um tempo importante para “ultimar” a preparação para ordenação. O Luís Nobre viveu-o como diácono nas comunidades que o bispo que confiou, ao longo deste ano pastoral, no arciprestado de Alpedrinha (Alpedrinha, Póvoa de Atalaia, Orca e Zebras). Quisemos saber que frutos colheu dessa experiência: “Foi bastante enriquecedor. Tenho a certeza que recebi imensamente mais, do que dei. Foi interessante articular o ensino mais especulativo com a ordem prática da pastoral. As relações humanas saíram muito fortalecidas e a experiência pastoral permitiu-me crescer e aumentar os meus horizontes em relação a toda a dinâmica pastoral que nos é exigida.”

Mas agora, nova etapa, novos desafios. Que representa para o novo padre o sacerdócio? “Ser sacerdote é ser outro Cristo. Como ele, viver de acordo com o evangelho, ensinado, passando na terra fazendo o bem e acima de tudo, amando e perdoando. Ser sacerdote é ser sinal, claro e inequívoco, da presença de Cristo no meio dos homens.”


Finalmente, e porque fica sempre bem, pedimos ao Padre Luís Nobre que deixasse uma mensagem aos jovens: “Vós, os jovens, sois o presente da Igreja. Apostai em Cristo, do mesmo modo que Ele aposta em vós. Não tenhais medo do futuro, porque vós sois o futuro, que em comunhão com Cristo, pedra angular, frutifica. A Igreja espera muito de vós, do mesmo modo que vós esperais muito da Igreja. Vinde ocupar o vosso lugar na Igreja, o lugar que vos pertence e que vos fará ser cada vez mais felizes, pois é dando que se recebe, e é amando com entrega incondicional que nos completamos. Com Ele, chegais ao porto seguro.”


Não é certo, mas se um dia, à hora da missa, virem chegar um sacerdote de camião, é bem provável que seja o Padre Luís Nobre. De qualquer maneira, desejamos a este novo sacerdote que seja um “Nobre padre” fiel a Deus e generoso no serviço da Igreja.

1 comentário:

Anónimo disse...

Força, Padre Luís Nobre!
Agora, o camião é outro! E olhe que custa ainda mais a conduzir. Nunca o conduza sozinho e saiba escolher a companhia!